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Germano Aguiar Vieira

Diretor Florestal da Eldorado

OpCP67

Plantar floresta, pra quê?

Em minha opinião, a resposta a essa pergunta deve atender a duas premissas básicas: ganhar dinheiro e também fazer o uso mais eficiente de cada fazenda; primeiro, porque o investimento em terra é muito alto e, segundo, porque a terra, sendo um bem finito, deve responder a uma função social importante para a civilização e produzir bens necessários, de forma mais racional possível. 

No Brasil, deve-se plantar floresta por quê? São cinco os pontos que respondem a essa pergunta:
1) é o país que mais produz madeira por hectare do mundo, ou seja, tem uma vocação natural para essa atividade;
2) possui uma grande quantidade de áreas disponíveis e vocacionadas para plantio de vegetais de ciclo longo, ou seja, inaptas para produção de grãos, e muitas delas se encontram em algum estado de degradação;
3) existe um grande mercado consumidor de produtos madeireiros e não madeireiros no Brasil e no mundo; 
4) uma floresta de eucalipto madura sequestra cerca de 150 t de CO² equivalente por hectare, uma importante contribuição para a saúde do planeta; e
5) é uma grande oportunidade de geração de renda para produtores independentes, além da geração de novos postos de trabalho. 

Mas, da mesma forma que plantar cana, soja, milho ou arroz, plantar florestas requer técnica específica e não é para amadores. Algumas premissas devem ser respeitadas como escolha correta da espécie de árvore a ser plantada para cada produto que se quer produzir, conhecer o manejo mais adequado para cada tipo de floresta e o ambiente edafoclimático da região a ser plantada. Como é um plantio de ciclo longo, um investimento em plantação de árvores deve ser precedido de um estudo bem-feito do mercado, histórico de preços dos produtos e os fundamentos que o regem. 

Atualmente, o mercado de madeira oriundo de florestas plantadas no Brasil atende às grandes indústrias consumidoras de celulose, painéis e carvão vegetal, entregando madeira não elaborada para cada processo industrial, e o frete é um fator decisivo no sucesso de cada projeto. Isso significa que plantar floresta a uma distância superior a 200 km de um mercado consumidor maduro não seria recomendado. Em algumas regiões brasileiras, no entanto, se encontra um mercado mais pulverizado e, nesse caso, a qualidade da floresta tem um peso maior ? estamos falando de produzir madeira para serraria, laminados e madeira tratada. 
 
Apesar de representar apenas cerca de 3% da exportação de produtos florestais brasileiros, os produtos não madeireiros, como taninos, borracha, ceras, óleos, resinoides florestais, também ocupam papel importante na receita florestal em algumas regiões do País. Outro mercado, ainda não expressivo, é o mercado de exportação de produtos florestais in natura, como toras, cavacos, madeira serrada e outros, e, nesse caso, a proximidade de um porto passa a ser fundamental para se obterem bons retornos. Ainda notadamente incipiente quando comparado ao consumo da madeira por grandes indústrias de celulose, projetos florestais para produção de energia, secagem de grãos e energia elétrica ou plantio de floresta, exclusivamente para venda de CO2 em mercados regulados e não regulados, começam a participar da lista dos investidores do setor. 
 
Mas qual será o futuro do setor de florestas plantadas? Plantar floresta ainda será um bom negócio daqui a 30 anos? 

O Brasil tem perto de 10 milhões de florestas plantadas que sustentam mais de 90% de todo o consumo brasileiro de madeira para diversos fins. É o maior exportador de celulose no mundo atendendo a mercados asiático, americano, europeu e oriente médio. Possui florestas plantadas em cerca de 5.000 municípios, planta mais de 1 milhão de árvores por dia, e o impacto que essas atividades geram, não somente nos aspectos financeiros, mas também na área social e ambiental, são importantes para todo mundo. 

Apesar de não se ter conhecimento detalhado do consumo futuro de produtos oriundos da floresta no Brasil e no mundo, creio que ainda teremos um mercado maduro por muitos anos para os produtos existentes e um novo mercado para produtos ainda em desenvolvimento, cujo potencial é extremamente vasto e aplicado à realidade das necessidades mundiais. 

O País precisa de energia para continuar avançando em seu desenvolvimento, e o Governo Federal focará esforços na promoção de energia alternativa como forma de aumentar a oferta e reduzir o preço da energia. Existe uma oportunidade crescente para o uso de fontes de energia renováveis à medida que o governo abre também espaço para a participação de tais fontes em seus leilões, e o mundo busca fontes sustentáveis de geração de energia.
 
Dos 1.528 projetos cadastrados no leilão A-4/2020, 21 foram de termelétricas a biomassa, totalizando uma oferta de 1.145 MW. Se 20% dessa oferta vier da biomassa florestal, estamos falando em um consumo adicional aproximado de 1,5 milhão de metros cúbicos de madeira. A energia de biomassa passará a ganhar importância cada vez maior em termos de consumo de madeira. 
 
Outro ponto importante a se pensar é que, em 2030, a expectativa é que o Brasil atinja a marca de 230 milhões de pessoas. Com quase 5 bilhões de pessoas, a Ásia terá, aproximadamente, 58% da população mundial, e o mundo terá cerca de 8,5 bilhões de habitantes; isso terá um impacto enorme na demanda de energia limpa e de produtos de base florestal, e essa demanda, com certeza, irá para o país que consegue ser mais eficiente e oferecer esses serviços e produtos mais baratos e de forma social e ambientalmente responsável. E é claro que o Brasil, com o seu know-how em produção florestal, será um dos grandes beneficiados nesse aspecto, por já atender a todos os requisitos de um país produtor e fornecedor de matérias-primas globais. 

No entanto, devemos estar atentos aos insumos necessários para a formação dos maciços florestais, cada vez mais caros, como também às condições climáticas, cada vez menos hospitaleiras, para garantir altas produtividades florestais. Nos últimos 5 anos, o valor da terra mais que duplicou em algumas regiões produtoras de florestas no Brasil; os insumos, como fertilizantes e agroquímicos, tiveram seu preço fortemente impactados pela variação cambial e escassez de matéria-prima; máquinas e equipamentos também sofreram um desiquilíbrio na sua cadeia de produção, causando falta de equipamentos e aumento de preços. Com os recursos humanos também não foi diferente, o êxodo rural tornou escasso esse recurso, principalmente no interior do país. 
 
Para fazer frente a esses grandes desafios de continuar produzindo florestas lucrativas, está sendo necessário investir muito em conhecimento de silvicultura, genética e manejo da floresta, assim como desenvolver equipamentos com maior tecnologia capaz de aumentar a produtividade e melhorar cada posto de trabalho no campo. Isso, no entanto, começa pelas grandes organizações, que possuem equipes de desenvolvimento, bem como capacidade de investimento para dar suporte a esses projetos, ficando o pequeno e médio produtor com o dever de estarem atentos para seguir os passos dos grandes. É claro que várias tecnologias e inovações apareceram nos últimos anos e estão ajudando o silvicultor na sua luta para fazer a melhor floresta; ainda assim, as alterações estão sendo muito mais drásticas do que se imaginava. 

O conhecimento florestal está tendo que mudar de patamar para garantir bons resultados nos projetos florestais, que, atualmente, sofrem bastante com anos seguidos de déficit hídricos e aparecimento de muitas pragas exóticas.  Materiais genéticos mais bem adaptados, manejo integrado de pragas e doenças, mecanização das atividades de preparo de solo e plantio, fertilização cada vez mais bem calibrada para cada solo e para cada material genético, uso de toda tecnologia disponível para garantir a melhor precisão nas atividades são conhecimentos absolutamente necessários para a nova silvicultura.
 
Sendo assim, volto à pergunta, plantar floresta: pra quê? E a resposta fica cada vez mais evidente que se trata de um bom negócio, agora e no futuro, sendo necessário para a fabricação de produtos importantes para a civilização, mas, como todo negócio, tem fundamentos específicos e continuará não sendo para amadores.