Membro do Conselho Consultivo da SBS e Diretor Florestal da Eco Brasil Floresta
Op-CP-24
A silvicultura brasileira está vivendo, nos últimos anos, um novo ciclo de crescimento. Muito diferente dos anteriores: novas regiões, novos empreendedores, novas empresas, sem fartura de informações científicas, nem tradição silvicultural. Até então, o crescimento se deu nas regiões Sul e Sudeste, com muitas pesquisas, experimentações e com segurança científica.
A silvicultura dos elevados níveis de produtividade, arrojada sustentabilidade, certificações, programas de fomento, uso múltiplo das florestas, que despertou interesse de investidores nacionais e internacionais, esteve, em sua maior parte, restrita às regiões Sul e Sudeste.
Nas novas regiões, onde as atividades silviculturais estão sendo iniciadas, o cenário é bem diferente. Estamos falando de áreas localizadas no Piauí, Maranhão, Tocantins, Pará, oeste da Bahia, algumas regiões do Mato Grosso, entre as novas e principais fronteiras da silvicultura.
De um lado, temos grandes extensões de terras desocupadas ou subutilizadas, com preços atraentes e, em alguns casos, riqueza de infraestrutura, logística favorável e o aceno convidativo dos governos estaduais, dentre as principais atratividades.
De outro lado, temos dificuldades com documentações fundiárias, grande diversidade de solo e clima, indefinições e morosidade nos processos de licenciamentos, dificuldades com mão de obra sem treinamento, escassez de prestadores de serviços, falta de informações científicas, enfim, um caminho todo a ser construído.
E aí cabem indagações: as novas fronteiras representam, de fato, uma alternativa para a expansão? Poderão pôr em risco o sucesso, até então alcançado pela silvicultura brasileira? É a direção para manter o Brasil na liderança da silvicultura industrial? Essa expansão atende aos interesses das políticas e compromissos governamentais?
Vai contribuir para os programas de mitigação das mudanças climáticas? Dentre inúmeros questionamentos, temos que ter convicção de que, se quisermos uma silvicultura sustentável, precisamos ter florestas com boa produção e que respondam, de maneira satisfatória, a essas e a muitas outras indagações.
A falta de pesquisas e experimentações para essa vasta região exigirá do empreendedor esforços redobrados para não ser seduzido pelos interesses de curto prazo, especialmente, o menor preço das terras mais inóspitas. Essa sedução poderá levar empresas e investidores à aquisição de propriedades sem a menor condição de se alcançar êxito na formação de florestas produtivas e competitivas.
Essa lógica técnica baseada em biologia e fisiologia vegetal, quando desrespeitada, pode se transformar em limitação insuperável aos empreendimentos que nessas áreas se instalarem. Afrontar essa lógica é viver em permanente risco.
Há experiências consagradas e acumuladas em regiões semelhantes a muitas áreas das novas fronteiras e que permitem, com segurança, traçar os procedimentos silviculturais e cuidados a serem adotados. Esse parece ser o caminho a ser seguido. Há áreas disponíveis com preços que provocam as planilhas e os planos de negócio. Mas, nesses casos, as linhas da certeza e da incerteza quase se cruzam.
A silvicultura brasileira de tanta ciência não pode e não deve se expor a tamanhas dúvidas. Em áreas devidamente selecionadas, também existirão dificuldades naturais, mas tudo, no entanto, administrável e superável com profissionalismo e respeito às premissas básicas da ciência florestal. O baixo preço de terra já mostrou ser um falso indicativo para escolha de áreas para plantios florestais. É inaceitável que a silvicultura brasileira fique refém dessa antiga armadilha.
Não é surpresa deparar-se, nessas novas regiões, com plantios de eucalipto de péssima qualidade, onde faltaram conhecimentos elementares para a formação das florestas. Nesses asos, as intervenções técnicas adequadas resolverão.
No entanto, quando o insucesso se dá por conta das limitações impostas pelas adversidades de solo, de clima, ou de ambos, dificilmente, temos alternativas para correção. Encontramos também plantios de excelente performance, onde os cuidados para seleção de terras, a tecnologia, a sensibilidade e a responsabilidade profissional se somaram.
Confirma-se, assim, o potencial para expansão da silvicultura nessas novas regiões. É o respeito obrigatório pelas bases da ciência florestal que não admite qualquer transgressão. Respeitando-se tais princípios, é só seguir em frente, O crescimento das indústrias brasileiras de base florestal é inquestionável, e essa expansão é indispensável para atender a setores como celulose e papel, siderurgia a carvão vegetal, chapas, energia, biomassa, entre outros.
Os produtos florestais são demandados, crescentemente, em nível nacional e internacional, e o Brasil tem possibilidades competitivas para se posicionar como grande líder. Para tal, há de se assegurar a sustentabilidade desses empreendimentos.
Nas novas fronteiras, os cuidados técnicos devem ser redobrados; as pesquisas, intensificadas; os licenciamentos, agilizados; as políticas públicas para industrialização, alavancadas e concretizadas; os mecanismos de segurança institucional, revigorados; e as contribuições sociais, econômicas e ambientais, devidamente equilibradas.
O exame cuidadoso dessas considerações mostrará que não há nenhuma invenção. É só respeitar as lições vividas, valorizar os conhecimentos científicos e ter a humildade de se copiar a trajetória de regiões bem-sucedidas, que, lá atrás, também foram novas fronteiras.