“Gigante pela própria natureza”, como afirma o nosso hino nacional. Pura verdade. Uma vasta extensão territorial caracterizada pela maior cobertura florestal do planeta. Ainda que possamos ostentar esse status, em nada se comparam a riqueza florestal que detínhamos nos tempos do descobrimento, quando fomos alvo de um processo de colonização que visava à utilização exatamente desses recursos, principalmente a do pau-brasil, primeira espécie a ser explorada em escala comercial.
As florestas constituem um tema da maior relevância para o planeta, de tal modo que as múltiplas interpretações, acepções e discussões sobre esse assunto chegam a impressionar. Portanto escrever sobre o tema é uma tarefa que mexe com a nossa racionalidade e, principalmente, com nossas emoções e reações, pela importância que tem para o nosso bem-estar, para o País, para a humanidade, em suas múltiplas culturas e formas. Nesse sentido, dois campos do debate me chamam a atenção.
O primeiro trata do contexto histórico em que nossas florestas nativas, ainda no período colonial, em razão da satisfação de necessidades humanas básicas, em época de pouco referencial científico e tecnológico disponível, começam a ceder espaço para espécies exóticas, visando à produção de alimentos, por meio da conversão de florestas em pastagens e plantações de frutíferas, cereais, cana-de-açúcar, legumes, hortaliças, etc.
Isso ocorreu num cenário sem outras formas de produção de alimentos em escala, a não ser pela introdução das culturas de ciclo rápido, a fim de dinamizar a produção agropecuária para prover a população participante do processo de colonização. Nesse contexto, destaco um indicativo básico: onde há floresta nativa, também estão as condições para que outras espécies possam se desenvolver.
Esse processo de substituição de espécies nativas pela produção de alimento, desde o descobrimento até os dias de hoje, nos colocou entre os países de maior destaque na produção de alimentos. São milhões de hectares com plantio de soja, milho, pastagens para criação de gado, café, frutas, etc. Naquele momento histórico da colonização e por muitos anos depois, não se dispunha de conhecimento científico e de nenhuma legislação que pudessem nortear a racionalidade de supressão florestal.
Por outro lado, com o avanço do processo de conversão de florestas em pastos e lavouras, com a evolução científica e tecnologica sobre o uso do solo e da floresta, e o advento das leis para disciplinar o uso da terra e dos recursos naturais sob o enfoque da sustentabilidade, várias políticas de incentivo, regulamentação e controle da produção agropecuária, ao lado de políticas de preservação e conservação florestal, foram constituídas e implementadas, mas, até então, não se mostraram capazes de conter o avanço do desmatamento, que se manteve em níveis elevados, provocando alterações ambientais que ameaçam o equilíbrio do planeta e o bem-estar da humanidade, na medida em que as florestas continuam sendo suprimidas além da necessidade e sem os devidos cuidados para evitar prejuízos ao estoque de recursos naturais, que deveria ser conservado para servir às futuras gerações.
Isto é, se, por um lado, concebemos a necessidade de suprimir florestas para produzir alimentos, por outro, reconhecemos que é preciso “intervir” para aumentar a produção de alimentos sem, contudo, aumentar o desmatamento, e, aqui, diante desse impasse, chegamos ao segundo campo do debate: florestas plantadas.
Ao evoluirmos em conhecimento e tecnologia e no marco legal necessários para inverter de forma racional, a estratégia de “plantar florestas” surge como alternativa para manter a produção de alimentos e suprimentos, além de corrigir erros do passado com o desmatamento de milhões de hectares sem critérios ambientais e legais, que mais tarde foram abandonados por questões de falta de planejamento estratégico, baixa produtividade e mercado e ausência de comando e controle governamental, para direcionar os rumos da produção com respeito ao meio ambiente.
Esse paradoxo levou o agronegócio a se repensar sob a perspectiva do desenvolvimento sustentável, valendo-se de novas tecnologias para produção racionalizada, mudanças na forma de gestão dos negócios e intensos programas de pesquisa em conjunto com a Embrapa, universidades e institutos de pesquisa conceituados. Os efeitos dessas mudanças e investimentos no agronegócio brasileiro passaram a incorporar excelentes resultados na balança comercial do País.
É exatamente nesse cenário de amadurecimento do agronegócio que entra em cena a implantação de florestas para ocupar áreas abandonadas, degradadas e ou de baixa produtividade. E, nessa direção da formação de floresta, destaca-se o eucalipto, uma espécie exótica de alta produtividade que se adaptou muito bem ao clima e ao solo brasileiro, transformando-nos em um grande produtor de florestas cultivadas, com alta produtividade e competitividade, principalmente para a produção de celulose, geração de energia, produção de papel, fármacos, indústria alimentícia, carvão, móveis, construção civil, etc.
Além das áreas recuperadas com implantação de florestas cultivadas, o governo brasileiro incentivou, através de políticas de regulamentação para supressão vegetal de áreas nativas, a expansão da cadeia produtiva da celulose, visando ao desenvolvimento econômico e social por meio da geração de emprego e renda e do fortalecimento das economias locais dos diferentes municípios, estados e regiões onde as florestas cultivadas se estabeleceram. Entre os vários exemplos e casos de sucesso desse modelo de negócio, destaco o caso da Jari Celulose, não só por participar pessoalmente da história dessa empresa, antes mesmo de fazer parte do seu quadro de colaboradores, mas, sobretudo, por sua função e sua importância estratégica para o desenvolvimento econômico e social e para a conservação florestal da região.
A Jari Celulose fez parte de um dos maiores projetos agroindustriais do planeta, implantado em 1967, em Almeirim, divisa entre os estados do Pará e do Amapá, na região amazônica, tendo como principal atividade a produção de floresta plantada para fabricação de celulose branqueada para o mercado de papel. Devido à falta de infraestrutura e de mão de obra qualificada, foram construídas quatro vilas com casas de alvenaria, tratamento de água, energia elétrica, postos de saúde, clubes, praças, hospital, restaurantes, escolas até ensino médio, além de porto, aeroporto, 70 km de ferrovia e cerca de 9 mil km de estradas e ramais.
A partir da implantação da empresa, mudanças significativas repercutiram em toda a região. A economia, até então baseada em culturas agrícolas e extrativistas de subsistência, tomou novos rumos. Antes uma região com baixa densidade demográfica, a população existente era praticamente de pessoas que estavam a serviço da empresa; com o tempo, formaram-se duas cidades na margem esquerda do rio Jari, Laranjal do Jari e Vitória do Jari, além de Almeirim, cuja população dobrou, de modo que a região soma, hoje, aproximadamente, cem mil habitantes nos três municípios.
O reflexo na economia da região foi substancial. Almeirim, que antes sobrevivia praticamente do agroextrativismo, está entre os municípios do estado do Pará que mais arrecada. Laranjal do Jari tornou-se a terceira economia do estado do Amapá. Mesmo no contexto atual da crise política e econômica pela qual passa o País, a Jari Celulose ainda mantém, aproximadamente, três mil postos de trabalho, entre funcionários próprios e de terceiros, dinamizando uma ampla rede de relações comerciais e serviços públicos e privados, que se estabelece em torno da indústria.
Em suma, quando abordamos aqui o tema das florestas e do planeta, não há como não fazer uma relação com a atuação da Jari Celulose na região do Vale do Jari, que, através da atividade de manejar florestas plantadas e nativas, de forma racional e sustentável, exerce uma influência econômica e social na geração de trabalho, de renda e de divisas econômicas, bem como exerce uma função ambiental estratégica, na conservação da floresta em pé e no controle do desmatamento, motivada pela pressão agropecuária e madeireira ilegal que avança na Amazônia e, consequentemente, nessa região, contribuindo diretamente para que Almeirim continue entre os municípios mais verdes do estado do Pará.
Para garantir a conservação da floresta em pé e interromper o avanço do desmatamento na região, a empresa lança mão da legislação ambiental, respeitando e atuando em conjunto com as instituições de meio ambiente, segurança pública e justiça e conta com o apoio de um aliado estratégico – as comunidades agroextrativistas da região que habitam a floresta no entorno da área de atuação da empresa. Essa aliança estratégica foi construída ao longo do tempo, mas ganhou força e expressão a partir da atuação da Fundação Jari nas comunidades. Entre os anos 2004 e 2006, a Fundação, com o apoio técnico da USP e da UFPA, realizou um diagnóstico socioambiental para aprofundar o conhecimento sobre o modo de vida das 98 comunidades situadas no entorno da atuação da empresa, buscando compreender sua interação com os recursos da floresta e do meio ambiente, com o poder público e com a própria empresa.
Com base nos resultados desse estudo, a Fundação Jari vem desenvolvendo programa e projetos em conjunto com poder público e com uma ampla rede de parceiros locais, nacionais e internacionais, na construção de soluções para a autossustentação e a melhoria da qualidade de vida das comunidades. São vários os projetos em desenvolvimento: fortalecimento do terceiro setor e do sistema de garantia dos direitos da criança e do adolescente, projeto de qualificação profissional da juventude e mão de obra local, assistência técnica aos pequenos produtores rurais, em conjunto com instituições públicas, com vista a garantir investimentos para viabilizar o fortalecimento da agricultura familiar, educação ambiental com visão holística, visando à sustentabilidade das pequenas propriedades, sobretudo no desenvolvimento de negócios extrativistas, a partir do uso sustentável dos recursos naturais da floresta.
No caso dos negócios sociais voltados a incentivar a atividade extrativista de produtos não madeireiros, destaca-se a coleta de castanha-do-pará, por sua importância econômica e social para a região; no entanto, em modelo diferenciado do tradicional, hoje, através da Fundação Jari e de parceiros, foram criadas organizações sociais para capacitar os extrativistas para obter um produto de melhor qualidade, de forma a possibilitar que os extrativistas consigam melhores preços no mercado, como também foi possível tornar a atividade ser financiada a partir de convênio de cooperação técnica entre instituições financeiras, Fundação Jari e comunidades envolvidas, o que está gerando grandes resultados econômicos para a região.
Os vários projetos desenvolvidos através da Fundação, no segmento agroextrativista, tem como ponto alto a redução da pressão sobre a floresta, com foco em reduzir o desmatamento, a caça e a pesca predatórias, e garantir a manutenção dos recursos naturais a serviço das populações rurais, que, sem dúvida, é uma contribuição relevante para a sustentabilidade da floresta e do planeta. Ainda com vista à proteção do meio ambiente e à recuperação de áreas degradadas e abandonadas oriundas de agricultura itinerante, a empresa implantou um programa de fomento florestal para contribuir para a recuperação dessas áreas através do plantio de eucalipto.
Esse projeto foi implementado em 2008. Nos seis primeiros anos, a empresa financiou com recursos próprios, além de doar as mudas, fornecer insumos e prestar assistência técnica; atualmente, através de um convênio com o Banco da Amazônia, o produtor, organizado em uma cooperativa (Coopmar), está obtendo financiamento direto com a instituição financeira.
Em maio do próximo ano, a Jari Celulose completará 50 anos, consolidando a sustentabilidade na expressão exata da palavra, com a produção de celulose com alto valor agregado, o compromisso com a sociedade, através de suas múltiplas ações da Fundação Jari, e o compromisso com o meio ambiente, através do manejo responsável de suas florestas plantadas e mantendo conservadas as florestas nativas sob sua gestão. Ao longo de quase meio século, podemos dizer que muito foi feito em prol do desenvolvimento da região, sem deixar de admitir que ainda há muito a se fazer e aprender.
O desafio continua a cada dia, e, sem dúvidas, em tempos de crise, tais desafios se tornam ainda maiores e mais difíceis de contornar. Por estarmos na Amazônia, o cuidado em produzir com baixo impacto, contribuindo para equilíbrio climático real do planeta, é redobrado.