O setor de florestas plantadas está passando por um momento especial de pujança econômica. Apesar das incertezas impostas no início do ano, praticamente todas as áreas ligadas a essa maravilhosa cadeia de árvores plantadas estão comemorando índices e recordes históricos de vendas, seja para o mercado interno ou externo.
Além disso, os diversos novos projetos de expansão até 2023 já anunciados vão trazer ainda mais riqueza para o segmento. É de conhecimento de todos que somos um setor altamente profissional, sustentável e que representamos o segundo item da balança comercial do agronegócio nacional.
No entanto, por outro lado, é possível identificar rapidamente que as grandes empresas estão ficando cada vez maiores, dentro de um conceito claro dos benefícios da economia de escala para se ter maiores margens e poder de fogo em negociações com fornecedores. Essas grandes empresas – no máximo 10 em todo o território nacional – é que ditam as tendências de mercado.
São elas que podem ou não investir no desenvolvimento das tecnologias e inovações. Os projetos das expansões florestais estão forçando as empresas a buscarem terras cada vez mais distantes das suas unidades fabris. Áreas com menos fertilidade e com declividades às vezes mais acentuadas vão se tornar uma tendência.
Mesmo que se tenham práticas melhores de fomento florestal para se estimular a inserção do componente florestal em pequenas propriedades, sem a necessidade de compra de terras, é praticamente impossível se competir com a agricultura em se tradando de terras férteis.
A diferença do valor líquido presente (VPL), comparando agricultura versus floresta, faz com que o produtor não pense duas vezes em pelo que optar para se ter um maior ganho. Pensando especificamente da “porteira para dentro”, o cenário torna-se desfavorável no curto e no médio prazo.
Hoje, estamos passando por um seríssimo problema de queda de produtividade florestal, principalmente do gênero eucalipto. Várias justificativas são colocadas à mesa, como fatores climáticos, déficit hídrico, má conservação do solo, alto índice de pragas e doenças e materiais genéticos não preparados para essa conjuntura. Isso está causando uma queda do volume médio individual (VMI).
Dito isso, falando especificamente sobre esse importante tema de mecanização e automação, temos uma situação de oportunidades, incertezas e muitos desafios. Um dos principais fatores que incentivam e justificam tanto a mecanização quanto a automação é a redução de custos com mão de obra, a qual, ano após ano, tem se tornado escassa e mais onerosa. Uma mudança operacional que traga benefícios de redução de custo e aumento da qualidade, consequentemente, aumenta a competitividade das empresas de base florestal.
A grande vantagem da automação é maximizar a eficiência da operação, permitindo maior escalabilidade, uma vez que há vários processos repetitivos, os quais podem ser substituídos por uma máquina autônoma, reduzindo tempo de operação e custos nos processos, implicando, consequentemente, oportunidades de crescimento.
Outro benefício do processo de automação é a possibilidade de identificação de falhas rapidamente – diferentemente do que acontece em processos humanos −, o qual gera um impacto positivo na manutenção das máquinas, reduzindo o tempo de máquina parada, por exemplo.
Obviamente, existem dois universos completamente diferentes: as operações de silvicultura e as operações de colheita. A mecanização da colheita já está madura nas grandes empresas, há décadas. E, felizmente, está começando a fazer parte do dia a dia do pequeno e médio empresário florestal. Nunca se venderam tantas máquinas, de forma tão pulverizada, no Sul do Brasil.
Os grandes fabricantes dos equipamentos de colheita disponibilizam sistemas de controle altamente sofisticados, que permitem aos gestores terem informações on time para a tomada de decisão imediata. O desafio atual é a conectividade do campo para transmissão dessas informações. Já percebemos que algumas empresas estão com o foco em se ter uma floresta iluminada com o máximo de cobertura de internet. Isso proporcionará um verdadeiro acompanhamento de um reality show das operações florestais.
Em se tratando da silvicultura, acompanho esse processo de mecanização e automatização há mais de uma década. Evoluímos, sim, principalmente nas operações de preparo de solo, controle a matocompetição, adubação, pragas e doenças e irrigação. Mas a operação de plantio ainda é um grande desafio operacional, pensando em qualidade, rendimento e custos competitivos.
A utilização de drones para várias atividades silviculturais é altamente promissora e já está presente em várias empresas. Estamos em pleno desenvolvimento de várias tecnologias utilizando drones. O céu é o limite. Felizmente, a curva de aprendizado está acelerada, visto que teremos florestas plantadas com mais frequência, em regiões de difícil operacionalização; a adoção dessa tecnologia certamente será intensa para os próximos anos.
Um novo conceito chamado Digital Twin, que é cópia digital de um produto físico, serviço ou processo, que já começou a ser utilizado em outros segmentos, pode auxiliar no planejamento das operações de silvicultura e colheita. Pensando no futuro e em um passo adiante dos processos de mecanização, automatização e integração, a possibilidade de enxergar com máxima precisão a realidade do campo, do escritório pode mudar a forma como controlaremos as operações atualmente.
Falando ainda em futuro, enquanto o Brasil ainda está se adaptando à era 4.0, no Japão, já surgiu o conceito de Sociedade 5.0, onde o foco de inovação e transformação tecnológica está no ser humano. Partindo-se do pressuposto que tudo está conectado, a era 5.0 trata da convergência de todas as tecnologias para facilitar a vida dos seres humanos, com a intensificação do uso de Big Data, Inteligência Artificial e Internet das Coisas (IoT) para criar soluções.
Tudo isso focado em 3 pilares: qualidade de vida, inclusão e sustentabilidade. O mundo está acelerado, o processo de digitalização está ocorrendo neste exato momento, algumas empresas mais e outras menos maduras nesse processo. O grande segredo estará nas pessoas. Estamos preparados? As novas gerações estarão prontas para esses desafios?
Algumas iniciativas das grandes empresas para a cooperação no desenvolvimento de novas tecnologias pensando na mecanização da silvicultura ocorreu em um passado recente. No entanto se percebe que, infelizmente, algumas ações não foram para a frente. Fica claro que o desenvolvimento endêmico de tecnologias ainda é uma tendência e que não deve mudar no curto prazo. Quem perde é o setor florestal.
No cenário possível no médio prazo, de diminuição de oferta de madeira, baixa qualidade das florestas e expansões, mais do que nunca, a extração máxima do recurso e o investimento em tecnologias para mecanização e automação serão vitais para o bom andamento do negócio florestal.