A agroindústria florestal brasileira é um exemplo clássico da importância de compreender o conceito de “longo prazo” e suas implicações. Em muitos setores da economia, o que significa médio ou longo prazo é variável. Três, cinco, sete, dez anos… Mas o consenso é um só: prazos alongados exigem planejamentos consistentes.
Planejar significa iniciar pela análise SWOT, desdobrar em planos de ação claros e prever contingências. E o que a agroindústria florestal tem a ver com isso?
Planejar é uma prática intrínseca à atividade florestal, que se baseia em ciclos de seis a sete anos entre o plantio e a colheita da madeira. Esse tempo é determinante, e as variáveis que surgem ao longo do percurso devem fazer parte do planejamento.
Garantir o suprimento de madeira é vital para a indústria que depende dela como insumo básico. Entretanto, apesar dessa qualificação em planejamento, percebe-se que o foco no processo de produção e na entrega do produto final tem tomado, em muitos casos, a atenção quase exclusiva dos negócios. Com isso, as falhas na oferta de madeira tornam-se cada vez mais evidentes. Naturalmente, a excelência na produção e entrega é o núcleo do negócio, e não se trata aqui de negar essa prioridade.
O ponto central da reflexão é outro: para que exista o produto de origem florestal, é imprescindível garantir a segurança do suprimento dessa matéria-prima exigente, intensiva e de ciclo longo.
A pergunta que deve orientar o poder decisório é direta: é possível ampliar a produção de qualquer bioproduto florestal sem antes assegurar a madeira que o abastecerá em seis ou sete anos? O verbo “garantir” é usado aqui de forma intencional, pois significa ter certeza de que haverá madeira em quantidade, qualidade e origem adequadas, no tempo e na forma que a indústria exige.
Mesmo para as empresas integradas, a garantia de suprimento pode parecer óbvia, mas não é. Mesmo com madeira própria disponível, é indispensável estar preparado para contingências. Já para aquelas que dependem parcial ou integralmente do fornecimento externo, os riscos são ainda maiores, e situações críticas de abastecimento têm se tornado frequentes.
Costumo reforçar, em conversas e eventos, que, antes de qualquer produto, vem a floresta e que plantar é compartilhar riscos para garantir o futuro do negócio. Infelizmente, em muitos estados brasileiros, a demanda por madeira cresce de forma significativa, enquanto a expansão das áreas de produção florestal permanece praticamente estagnada.
Esse descompasso representa um grande risco para todo o setor florestal brasileiro e afeta de forma uniforme até mesmo quem aparenta ter segurança de suprimento. A demanda por madeira é real e crescente, impulsionada tanto por mercados que buscam matérias-primas limpas e renováveis em substituição aos produtos fósseis, quanto pelo avanço do mercado de biomassa energética em plena transição. Se não houver madeira legal suficiente para atender a essa procura, o espaço será ocupado por oportunistas e práticas criminosas.
A produção de florestas plantadas garante madeira lícita e rastreável tanto para a própria agroindústria (papel e celulose, embalagens, serrarias, carvão vegetal, painéis, pisos e móveis) quanto para um mercado cada vez mais amplo, como alimentos, bebidas, etanol, biomassa energética e outras culturas agrícolas.
Quanto maior a oferta legal e rastreável dessa madeira, maior será a proteção contra produtos de origem ilícita e contra o desmatamento ilegal.
Nem todos os consumidores de madeira no mundo são éticos ou socioambientalmente responsáveis. Historicamente, há criminosos que utilizam madeira sem origem legal e de procedência ilícita. Não se pode negar essa prática, mas o setor florestal e seus consumidores comprometidos seguem como os maiores interessados em extinguir a ilegalidade e o desmatamento.
A agroindústria florestal, por sua natureza, trabalha com planejamento de longo prazo do suprimento de madeira. Somos uma importante força de combate ao consumo ilícito e temos todas as credenciais para ampliar a oferta legal e equilibrá-la com a tendência crescente de demanda.
Outros demandantes podem não ter a mesma experiência do setor florestal. Assim, instalam demandas sem o devido planejamento de suprimento, o que pode gerar cenários críticos diante do aumento global da procura por madeira. Por isso, o planejamento da expansão dos plantios comerciais deve ser prioridade para produtores e consumidores, sobretudo para aqueles que ainda não possuem segurança de médio e longo prazos. A recomendação estratégica é clara: rever o planejamento e concentrar esforços na produção de madeira legal e rastreável, que, além de abastecer, também conserva.
Logo, é essencial apoiar governos estaduais e federal na promoção inteligente da expansão florestal, de forma a atender tanto aos setores consolidados quanto aos que surgem no cenário competitivo. Ao estimular esses novos produtores e acolher suas iniciativas, fortalecemos a base de suprimento de bioprodutos.
Dessa forma, a agroindústria florestal brasileira poderá se consolidar como uma forte impulsionadora da transição energética e da descarbonização, justa, acessível e segura, tudo para conquistar a confiança de consumidores nacionais e internacionais e reafirmar sua vocação de protagonismo na economia verde.