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Teotônio Francisco de Assis e Cristiane Aparecida Fioravante Reis

Diretor da Assistech - Tecnologia em Melhoramento e Pesquisadora da Embrapa Florestas, respectivamente

Op-CP-77

A importância do melhoramento genético no manejo florestal
O manejo florestal pode ser conceituado como “a administração das florestas para obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais”. Já o melhoramento genético é entendido como “a ciência, a arte e o gerenciamento dos recursos do aperfeiçoamento das plantas visando o benefício da sociedade humana”. Assim, o melhoramento genético tem grande importância nessa forma mais moderna com que o manejo florestal é praticado. 
 
É reconhecido também que a tríade da sustentabilidade, formada pelos fatores econômicos, sociais e ambientais, pode ser positivamente influenciada pelo melhoramento genético. Isso porque as cultivares florestais geradas são capazes de impactar positivamente na melhoria da qualidade e no aumento da quantidade dos produtos que são disponibilizados à sociedade e, consequentemente, na melhoria da rentabilidade do negócio florestal, bem como na redução da pressão por madeira procedente de florestas nativas, o que contribui para a conservação deste recurso. 
 
Embora sejam atividades complementares e interdependentes na produção florestal, o melhoramento genético tem influências importantes e diretas no manejo florestal. Os efeitos mais diretos dizem respeito ao potencial de produtividade. 

É sempre bom lembrar que o melhoramento genético aumenta o potencial produtivo dos materiais genéticos, mas é a silvicultura e o manejo que asseguram sua melhor expressão. Segundo a equação clássica do melhoramento genético, o fenótipo (F) é igual ao somatório dos efeitos de genótipo (G), dos efeitos do ambiente (A) e da interação entre o genótipo e o ambiente (GxA) (F=G+A+GxA). Na prática, esta equação significa que a produtividade da floresta em si, ou seja, aquilo que é visto, medido e avaliado, é o resultado da constituição genética das árvores que a compõem, do sítio de plantio no qual as características genéticas desses indivíduos se expressam e das interações entre o material genético e o sítio de plantio. Do exposto, fica comprovado que um bom potencial genético deve ser acompanhado de boas técnicas silviculturais e de manejo para se ter uma floresta mais produtiva. 
 
Quanto maior for o potencial genético das árvores, maiores serão as respostas às técnicas silviculturais e de manejo utilizadas. Assim, não é suficiente utilizar as melhores técnicas silviculturais e de manejo se o potencial genético das árvores não for adequado. 

Por outro lado, o maior potencial genético por si só não maximiza a produtividade, se as técnicas silviculturais e de manejo não forem adequadas à melhor expressão desse potencial. Seja pelo seu efeito direto no aumento potencial de crescimento volumétrico das árvores, seja pela possibilidade de gerar indivíduos resistentes/tolerantes a doenças, insetos-pragas, ventos, déficit hídrico e distúrbio fisiológico, o melhoramento genético é fundamental para um bom manejo sustentado. Alguns exemplos práticos deste fato são listados a seguir.

Em um estudo conduzido pelos professores Roland Vencovsky e Magno Ramalho (2006), foi estimado que 50% dos ganhos obtidos no decorrer do tempo possam ser creditados ao melhoramento genético. Assim, nota-se que uma parcela considerável do aumento da produtividade de madeira de eucalipto, a qual saltou de aproximadamente 15 m³/ha.ano-¹ (1970) para 38,9 m³/ha.ano-¹  (2021), seja advinda do melhoramento genético. Entre 1970 e 2021, houve 159% de ganho em produtividade de madeira de eucalipto, o que equivale a uma média de 3,12% ao ano. 
 
Por intermédio do melhoramento genético, são também desenvolvidas árvores resistentes/tolerantes a fatores bióticos e abióticos. Ganhos importantes já foram incorporados ao setor florestal também neste quesito. Um exemplo marcante foi o controle da ferrugem e cancro, por meio do uso de clones resistentes/tolerantes de Eucalyptus urophylla x E. grandis na região de Aracruz, Espírito Santo, na década de 1970, dentre outras regiões. Essa inovação contribuiu para resguardar a boa sobrevivência e a produtividade de eucalipto naquelas regiões, bem como promover e consolidar a clonagem como uma extraordinária ferramenta dentro dos programas de melhoramento do eucalipto no Brasil. 

Por outro lado, uma série de problemas tem sido enfrentada com o desenvolvimento de materiais genéticos resistentes e tolerantes ao longo dos últimos anos. Assim, foi conduzido um levantamento em 23 empresas florestais brasileiras ligadas aos segmentos de celulose, celulose e papel, carvão e energia, chapas, madeira serrada e TIMO. Esta prospecção teve como objetivo diagnosticar as causas das retiradas operacionais de clones de eucalipto dos programas de plantio nos últimos 10 anos. 

Constatou-se que 101 clones foram retirados devido a problemas com doenças (ferrugem, ceratocystis, erwinia, ralstonia, cancro, xantomonas, antracnose, gomose, dothiorella e calonectria), 54 clones retirados por problemas com insetos-pragas (vespa da galha, psilídeo de concha e percevejo bronzeado) e 137 clones retirados em razão suscetibilidades a fatores abióticos (distúrbio fisiológico, déficit hídrico, vento, problemas radiculares, declínio clonal e geadas). Foram listados, ao todo, 292 clones, sendo 42 destes repetidos, ou seja, diagnosticados com mais de uma causa de retirada operacional dos programas de plantio. 

Estes fatores são redutores da produtividade, e seu controle é importante na obtenção de uma produção florestal com maior estabilidade e com menores riscos de sobressaltos no suprimento de madeira na indústria. Do exposto, nota-se que há muitos desafios no desenvolvimento de cultivares resistentes/tolerantes a fatores bióticos e abióticos, sobretudo neste cenário de mudanças climáticas. Atualmente, por exemplo, são poucos os clones capazes de tolerar eventos de seca crítica/extrema em território brasileiro.

Adicionalmente, deve-se salientar que o melhoramento genético é a atividade que apresenta maiores possibilidades de se promover alterações significativas na qualidade da madeira das árvores. Como se sabe, a qualidade da madeira é um fator de grande importância no manejo, pois pode promover reflexos altamente positivos para as indústrias de base florestal, sobretudo nos custos florestais, nos ganhos de processo industrial e na qualidade dos produtos.
 
Neste âmbito, diferenças comparativas entre plantios seminais e plantios com cultivares clonais voltados para produção de celulose, na região de Aracruz, foram relatadas por Edgard Campinhos Júnior (1980). A média da densidade básica da madeira foi elevada de 480 kg/m³ (seminal) para 520 kg/m³ (clonal). 

O rendimento em polpa de celulose passou de 47% para 51,8%. O conteúdo de casca, o qual é indesejável, foi reduzido de 18% para 12%. O consumo de madeira passou 4,9 m³ t. celulose-¹ para 3,5 m³ t. celulose-¹, trazendo maior eficiência no processo industrial. Obviamente, outros ganhos consideráveis foram obtidos ao longo dos anos. 

Diante de tudo o que foi exposto, observa-se que, na gestão das florestas, o melhoramento genético tem grande impacto.