Vice-presidente da Suzano Papel e Celulose e do Conselho Superior de Economia da Fiesp
Op-CP-15
O eucalipto é o emblema vivo do negócio florestal do nosso país. Não obstante ter suas origens nas longínquas regiões do Pacífico, o eucalipto naturalizou-se brasileiro, transformando-se num dos mais importantes recursos da economia nacional. Começou como uma curiosidade exótica e alguns pioneiros tiveram a visão de casar aquela árvore de rápido e abundante crescimento, com as condições ecológicas do nosso território.
Árvore e terra consorciaram-se, para tornar o Brasil importante produtor de madeira, sem sequer tocar nas nossas florestas e matas nativas. As ferrovias utilizaram o eucalipto como combustível das locomotivas a vapor daquele tempo e quando elas foram sendo substituídas pelo diesel e pela eletricidade, algumas extensões plantadas tornaram-se praticamente ociosas.
A indústria de papel no país encontrava-se então em estado embrionário, tendo como matéria-prima aparas e alguma celulose importada. A segunda guerra mundial isolou o país das fontes de onde se importava a celulose, criando dificuldades quase intransponíveis para a modesta indústria papeleira. No pós-guerra, mais precisamente na década de 1950, o Brasil, que já havia sido premido pelas circunstâncias criadas pelo conflito mundial, ingressou com toda a energia na era da industrialização.
Foi o período histórico da substituição das importações pela crescente produção industrial nacional. O Estado brasileiro assumiu o papel de indutor do desenvolvimento. O mercado interno foi protegido da competição internacional, ficando reservado para as indústrias brasileiras. Foram criados mecanismos tributários e de crédito subsidiado e o efeito dessas políticas foi espetacular.
Para as novas gerações, é bom recordar como o Estado, especialmente num país como o nosso, é o indutor do desenvolvimento, não obstante o discurso hoje em voga de que o mercado tudo resolve. Na mencionada década de 1950, o setor de papel também começou a mover-se. Mas, a sua principal matéria-prima, a celulose, praticamente não existia no país.
Um jovem empresário, Max Feffer, de uma família que já há algum tempo dedicava-se ao negócio papeleiro, teve a visão de que aquela madeira, que havia perdido sua utilidade, poderia ser a fonte principal da fabricação do papel. Ele liderou uma pequena equipe, que contava com poucos técnicos escandinavos, e vencendo mil e um obstáculos, desenvolveu, pela primeira vez, o uso do eucalipto para fazer papel de boa qualidade. Dali em diante, o crescimento do setor não parou mais.
É bem conhecida a história do desenvolvimento tecnológico da parte industrial do setor, mas é menos conhecida a expressiva história da fase florestal. Os dados do aumento da produtividade do eucalipto são impressionantes e constituem-se em fruto quase exclusivo do trabalho dos brasileiros. A seleção, a clonagem e, agora, a pesquisa genética, colocam o país na vanguarda da plantação de florestas.
A evolução da atividade florestal, do ponto de vista propriamente empresarial, é pouco conhecida e também passou por importantes transformações. As áreas florestais das empresas eram cuidadas como uma das áreas da gestão industrial e vistas como fornecedoras da matéria-prima, embora a mais importante do processo industrial.
A evolução mais recente transformou esse quadro. A atividade florestal, do ponto de vista gerencial, deslocou-se para adquirir vida própria, sem perder sua função de fornecedora da produção industrial. Essa importante mudança representa o reconhecimento do enorme potencial econômico da produção de fibra de madeira para vários outros fins, como, por exemplo, o energético, a fabricação de móveis, a construção civil, e muitos outros, para atender à demanda, considerando a necessidade da defesa ambiental das florestas nativas, de um mundo que não abre mão da necessidade da fibra da madeira de árvores plantadas.
São variados os efeitos da extraordinária expansão do setor florestal brasileiro. Passamos à condição de players do primeiro time mundial do setor, a exemplo da nossa participação no Comitê Assessor Florestal da FAO, organização responsável para alimentação e agricultura das Nações Unidas, do qual fui presidente. O reconhecimento da imbatível competitividade do eucalipto atrai também os investimentos de importantes empresas globais.
Destaque especial cabe à formação de novos quadros, com excelentes qualificações técnicas na engenharia florestal, nas ciências biológicas, na genética e em outras áreas afins. A mais significativa evolução é a de que a área florestal não é mais um departamento das fábricas, mas as indústrias da celulose e do papel são áreas que compõem o grande setor florestal brasileiro.