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Hjalmar Fugmann

Presidente da Voith Paper América do Sul

Op-CP-60

Colaboradores e empresas: aliados ou adversários?
Refletir a respeito da transformação digital e seu impacto em geral, incluindo os efeitos no ambiente de trabalho, muito me agrada. Tenho me debruçado sobre esse tema há algum tempo, como entusiasta e testemunha destes momentos extraordinários que estamos vivendo. Esse é um assunto bastante atual e carrega certa polêmica, talvez ainda rodeado de tabus.
 
Historicamente, a introdução de novas tecnologias traz o temor de extinção da atividade, por parte da empresa, e de eliminação de postos de trabalho ou mão de obra, pelos colaboradores, desde a mecanização de indústrias, a invenção de motores a combustão, até exemplos mais recentes, como a aparição de soluções de ride-sharing ou home-sharing, como é o caso do Uber e da AirBnB.

Neste exato momento, estamos aprendendo que é possível colaborar sem necessariamente pegar um avião para outro país, ou estar fisicamente com os colegas, e as implicações disso são enormes. Cientes de que podemos e devemos aprender com o passado, mas não o considerar garantia de futuro, vemos que a introdução das tecnologias remodelou, de fato, a formatação de empregos e a relação entre colaborador, tecnologia e empresa.

Por outro lado, após cada onda de avanço tecnológico, encontramos maneiras de assimilar as mudanças, aprender com elas e modificar nosso comportamento. Num ambiente onde as transformações são cada vez mais frequentes e profundas, nossa capacidade de nos adaptar rapidamente é e será, cada vez mais, exigida e fundamental.

Aqui, cabe uma decisão que cada empresa e indivíduo terá de fazer: resistir ou assimilar e se adaptar. Ambos devem decidir isso juntos – e alinhadamente. A cooperação aqui é a chave. Cabe à empresa criar um ambiente adequado, uma cultura que permita e incentive a mudança e o crescimento baseado em novas tecnologias.

Cabe ao indivíduo compreender sua parte nesse ambiente e se colocar aberto a aprender e a mudar. Quando vemos o poder que as novas tecnologias têm de mudar nossa percepção e a forma como conduzimos as coisas, compreendemos que é a combinação da pessoa com a tecnologia que cria o ambiente perfeito para o crescimento. 
 
Alguns exemplos de tecnologias-chave para a chamada Indústria 4.0 são: Big Data, Inteligência Artificial, IIoT (Internet Industrial das Coisas) e Simulação/Realidade Mista (Digital Twin). São temas que avançaram muito nos últimos anos, e não se trata de tecnologias exclusivas de engenheiros e programadores, mas sim de uma imensa equipe de profissionais que, há até pouco tempo, tinha um perfil de atividade bastante diferente.

Os principais responsáveis por esse avanço são as pessoas – a implementação e a análise dessas tecnologias estão baseadas no conhecimento dos profissionais. O mundo da Indústria 4.0 se expande para além do ambiente da engenharia pura e se funde a outras especialidades e conhecimentos. Navegar por essa atmosfera exige mudanças na formação e habilidades dos profissionais.

De outro lado, sendo as pessoas o elemento fundamental de que empresas são formadas, cabe a estas, caso desejem prosperar, criar um espaço aberto e propenso à adoção de novas práticas e à atração de novos profissionais, alguns inclusive com perfis diferentes dos tradicionais.
 
O profissional do futuro é aquele que consegue compreender a expansão que houve nos limites de sua atuação e mesclar sua formação técnica com as possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias sendo lançadas no mercado, incluindo os sistemas de informação.

De forma semelhante, as empresas do futuro são aquelas que reconhecem nas pessoas sua principal fonte de diferenciação e prosperidade e que geram um ambiente favorável a esse modelo de profissional, instigando a colaboração, a criatividade e a autonomia, além da minimização do medo de falhar. 
 
Um dado curioso: no Simpósio do Gartner ITXPO (IT Symposium/XPO) de 2018, foi apresentado um levantamento de que, em companhias que utilizam Inteligência Artificial (IA), 16% dos colaboradores acreditam que essa tecnologia vai roubar empregos; 57% não veem mudança; e 26% acreditam que ela vai aumentar as oportunidades de trabalho.

Já nas empresas que não usam IA, 77% acreditam que essa tecnologia vai roubar empregos. Veja como a percepção é diferente quando se passa a adotar as novas tecnologias, e a empresa se torna uma Indústria 4.0: elas são encaradas como facilitadoras para os colaboradores e não como concorrentes deles.
 
Um exemplo bem atual é a aplicação da realidade ampliada, que equipa grandes máquinas industriais de ponta. Por meio de um tablet, celular ou óculos de dados inteligentes, os operadores do cliente entram em videoconferência com a central de suporte. Ao receberem os dados e as imagens da máquina, os especialistas analisam as informações em tempo real e transmitem os procedimentos de manutenção necessários aos operadores.

Em tempos de isolamento social, essa tecnologia significou não só segurança e saúde às pessoas, mas também agilidade e economia para o cliente. Mas há muito que caminhar. Apesar de desenvolver bem a tecnologia e a inovação, ficando em 2º lugar na América Latina, o Brasil investe pouco no capital humano para a indústria e em sua capacitação para o futuro.

Atualmente, em algumas delas, 90% do conhecimento ainda reside no nível operacional, nas pessoas, e a sua aquisição não é linear, gerando solavancos, problemas de sucessão e perdas. Com a transformação promovida pelas ferramentas digitais, estimamos que, no futuro, a confiabilidade da operação será 80% determinada por sistemas e 20% pela força de trabalho; todas as informações de operação e manutenção serão armazenadas e poderão ser acessadas; a gestão da produção poderá ser feita remotamente; e a transmissão de conhecimento passará a ser uniforme.
 
Observando esse cenário, fica cada vez mais evidente que devemos investir em pessoas para obter os desejados resultados da Indústria 4.0. Webinars e ferramentas on-line de conhecimento já não são novidades e devem ser cada vez mais explorados. Além disso, também podemos criar desafios internos nas empresas, premiando ideias criativas e aplicáveis para questões reais e, ainda, programas estruturados de imersão dos colaboradores nas novas tecnologias.

Não devemos deixar de fora nem os profissionais mais experientes, que se desenvolveram no “analógico”, nem os novos entrantes no mercado de trabalho, que já nasceram no “digital”. Essa é uma demonstração de que a transformação exige esforço e investimentos, mas, se for centrada nas pessoas, é viável em todos os tipos e setores de empresas e organizações.

É verdade que as novas tecnologias impactam as relações profissionais – porém, mais do que isso, dependem deles para se tornarem verdade. Conclui-se, por fim, que empresa e colaborador não são antagonistas nesse ambiente, e sim aliados, organismos que precisam viver em simbiose se desejam prosperar na era da digitalização – ambos mutuamente desafiados a responder a um ambiente de mudanças constantes.