São inúmeros os setores em que o Brasil e o brasileiro podem buscar exemplos de boas práticas em outras nações. Não obstante, em uma outra época pré-Covid, era absolutamente normal profissionais de diversas áreas, como tecnologia e indústria, buscarem aprimorar suas práticas e processos em outros países. Até mesmo no setor agrícola, onde somos grande destaque mundial, não são tão incomuns assim as caravanas de agricultores e pecuaristas brasileiros em viagens ao exterior na busca por aprimorarem conhecimentos. Aliás, diga-se de passagem, o aprendizado contínuo faz parte da formação de qualquer profissional. E, para nosso setor florestal, não é diferente.
Tendo a oportunidade profissional de atuar em outras áreas de aplicação de máquinas, como agrícola e de construção, pude ver, na prática, esse movimento. Porém a verdade é que, para o setor florestal, nossa pátria amada Brasil é benchmark. É a referência. Já ouvi, diversas vezes, colegas de outros ramos da economia me perguntarem: “Para onde vão os profissionais da sua área, para buscar se aprimorar?”.
E a resposta é: “De Norte a Sul deste nosso País”. Porém, sob minha óptica, esse sucesso e vanguarda se destaca por um fator, um ingrediente especial, que vai além dos hectares, pesquisas, clones, técnicas, manejo, ciência, máquinas, logística, etc. Esse sucesso se dá pela capacidade que nós, como Homo sapiens, temos de cooperar.
O setor florestal brasileiro é o que é pela cooperação e pelo desenvolvimento do “Homo florestal” e pela capacidade de criarmos coisas em conjunto (por favor, não levem a sério o trocadilho – não se trata, de fato, de nenhuma nova espécie ou processo evolutivo darwiniano).
Assim como tantos colegas de setor e profissão, aos 18 anos, escolhi esse mundo. Até me atrevo a usar a palavra “mundo”, pois, de fato, acredito que somos um somatório de peculiaridades que nos fazem organizar um setor único. Único no sentido de especificidades.
Uma mistura delicada e balanceada de características que formam as pessoas do setor florestal. Um balanço entre amor à ciência, à tecnologia, ao campo e à simplicidade. Talvez, também como tantos outros colegas, não sei exatamente todos os motivos que me levaram até a engenharia florestal. Ou até os motivos que me levaram até lá não tenham sido exatamente os mesmos que despertaram meu interesse nessa profissão posteriormente. Mas o fato é que cá estamos!
Nosso setor cresce com passos firmes e sólidos. Somos exemplo de produção florestal com responsabilidade ambiental de forma inquestionável por qualquer país. As áreas de atuação e oportunidades para desenvolvimento são inúmeras, e todas importantes na nossa ciência. Nem todo profissional do setor florestal tem a oportunidade de ter uma graduação acadêmica. Porém a formação técnica é igualmente importante e deve ser sempre contínua. As técnicas para isso vêm se adaptando e mudando conforme as tecnologias que vão se criando para tal.
A pandemia causada pela Covid-19 nos mostrou e acelerou ainda mais as plataformas digitais, que serão um caminho sem volta e importante para a formação e a transmissão de conhecimentos. Já para os que buscaram a academia, há graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado. Ciências de solo, nutrição, fisiologia, ecologia, ciências matemáticas, programação, computação, silvicultura, manejo, colheita, transporte, logística. Enfim, uma variedade infindável. Mas não precisei ir mais longe do que os meus quase 15 anos de profissão para aprender que, salvo algumas áreas e perfis a que se chega longe e ao sucesso sozinho, o “ingrediente mágico” está na nossa capacidade de cooperar e nos conhecimentos adquiridos na prática.
Planejar e executar com maestria é trabalho para um time. Exige liderança. E isso não se ensinava na academia, tampouco se constrói do dia para a noite. Pela natureza do nosso segmento, a formação do profissional dessa área passa por lugares diferentes em geografia e ambiente.
O banco da escola é tão importante quanto as horas no campo. Os ensinamentos do mestre do planejamento são tão importantes quanto as conversas e trocas de experiências com as pessoas da ponta, da execução. E, por fim, as horas de escritório e as linhas das planilhas são tão importantes quanto os quilômetros rodados por debaixo da sola de nossas botinas.
Na formação do “Homo florestal”, pela natureza e especificidade do seu trabalho, muito do sucesso de um profissional vem da habilidade de lidar com pessoas de diversas origens e estilos e de lidar com diversos ambientes de trabalho. Essas habilidades e competências são as habilidades comportamentais, ou soft skills. E, para o desenvolvimento dessas soft skills, o banco escolar e os livros até ajudam, mas não resolvem. A arte de se relacionar e interagir com os demais se adquire na prática, com horas de voo e exercício.
Um profissional pode certamente aprender coisas maravilhosas na academia, e ela é o motor fundamental da criação de ciência. Mas o sucesso desse profissional na vida terá pouco a ver com a sua excelência acadêmica. Em contrapartida, o sucesso estará na capacidade de tomar iniciativas, na persistência, na sua habilidade de contribuir positivamente para a vida de outras pessoas; na sua habilidade de apresentar boas ideias e passá-las adiante de maneira eficiente; na sua habilidade de navegar de forma suave e positiva nas redes de trabalho, de negócios e sociais. Investir em formação acadêmica é tão importante quanto investir tempo em formar seu capital de network e conexões (e não apenas com outros “Homo florestal”. É valioso interagir, diversificar e ampliar nossos pontos de vista).
Nessas duas frentes de atuação de formação do “Homo florestal”, a acadêmica formal e o desenvolvimento de habilidades interpessoais, há um denominador comum. Não dá para pular etapas. O fator tempo é importante para sedimentar e consolidar o aprendizado. Mas devemos ficar atentos, pois o mesmo fator tempo não se recupera se for desperdiçado. Por fim, já ouvi em diversas rodas de conversas de outros espécimes como nós que o setor florestal é desorganizado e desunido. Não discuto que sempre podemos nos organizar melhor para batalhar por melhorias para o nosso setor.
Porém, sob meu ponto de vista, o que faz do Brasil o benchmark mundial na produção de florestas plantadas e seus produtos é justamente a nossa capacidade de interagir e trabalhar em conjunto. E que assim seja por muitos anos.