Já faz algum tempo que o editor da respeitada Revista Opiniões me pede uma reflexão para publicação. Como andei um tanto cético em relação ao Brasil, procrastinei. Fui, contudo, instado por ele a me apresentar, e, dando-lhe razão, faço agora, neste honroso editorial, algumas observações de quem olha a floresta mais do alto, no sentido prático e figurado, e sem, assim, a precisão de profissionais que frequentam regularmente estas páginas.
Portanto, três vertentes para facilitar tal reflexão. Do Mundo, a perplexidade com duas questões diárias: a tecnologia que avança em uma velocidade jamais imaginada e a incapacidade de encontrarmos um equilíbrio que nos ajude a melhorar enquanto processo civilizatório. Vivemos um período de mudanças com características próprias: perigosas, traiçoeiras, imprevisíveis e sempre surpreendentes.
Definitivamente não há mais nenhuma possibilidade de progredir nessa quadra sem levar em consideração o peso da tecnologia. E a diferença em relação a outros momentos da história é a assustadora percepção das distâncias que são criadas, em contraponto à natureza de uma globalização que pressupõe multilateralismo, universalização de conteúdo, velocidade, simultaneidade, intercomunicabilidade, com consequência em empresas e setores que desaparecem mais rapidamente e de forma cada vez mais brutal.
Quantos de nós, desse mundo dos ativos tangíveis, do capital intensivo, da maturação de longo prazo, do imobilizado gigantesco, estamos, de fato, colocando a inovação em nossa agenda do dia a dia dentro de uma estrutura ágil e que não se confunda com as tarefas pesadas e urgentes do ambiente competitivo? O que vem por aí, mesmo para quem trabalha, no caso da indústria, mais com átomos do que com bytes?
Em seguida, o Poder, que é algo que está passando por uma transformação histórica, dispersando-se mais e perdendo espaço para atores novos, dos que têm força bruta para os que têm mais conhecimentos, dos gigantes corporativos para as empresas jovens, dos políticos tradicionais para os ativistas sociais. Demografia e fluxos migratórios estão nas novas agendas geopolíticas afetando a tudo e a todos.
O Poder, hoje, é mais fácil de conseguir, mais difícil de exercer e mais fácil de perder, como nos ensina Moisés Naím. Tantas incertezas têm levantado questões políticas mais complexas do que as econômicas nesse mundo interligado e com acesso imediato à informação. A democracia representativa e o próprio estado-nação são questionados, assim como o reducionismo econômico que associa o bem-estar ao consumo material e toda engenhosidade humana aos estímulos materiais. O que fazer com as migrações, com os ditadores que teimam em não desaparecer, com as religiões que mais dividem que somam, com um mundo futuro com trabalho, mas sem emprego? A civilização deveria estar mais unida, mais atenta ao planeta, mais solidária, mais tolerante, mais feliz. Não é o que se vê.
No Brasil, o paradoxo se mantém entre as oportunidades e o desperdício, entre o diagnóstico e a falta de realização. Temos problemas de curto prazo, como o déficit fiscal e a falta de empregos, mas, além disso, um problema estrutural com gastos do governo crescendo mais rapidamente do que a renda, o desafio de reformas que quebrem tal trajetória, a falta de crescimento e, principalmente, de uma produtividade que responde mal e, pior, com menos vigor que seus concorrentes internacionais.
Nossa estratégia passou longe da lógica da competição global, da busca de parcerias público-privadas, do baixo custo trabalhista e tributário, de incentivo ao acúmulo de poupança e investimento, de diplomacia empresarial. Voltamo-nos para dentro, num ambiente cartorial, de política comercial industrial defensiva, investimento mirrado. E, na origem, pela péssima atenção com a educação, esteio desses novos tempos.
Vivemos uma crise econômica, uma crise de liderança, uma crise de coalizão e, finalmente, uma crise de natureza moral e jurídica. Não é trivial. O Brasil não vai andar para trás. Tem enormes desafios, em especial de caráter sistêmico; embora volátil, tem área, mercado, gente e experiência para seguir em frente. Tem diagnósticos bons e sem fim, tem escassez de recursos apenas até provar que oferece garantias e compromissos, tem sim uma difícil e fundamental eleição em 2018, a qual definirá o País nos próximos muitos anos, e, quem sabe, junto com o enfrentamento definitivo deste mal que é a corrupção e a interferência do Estado, uma nova fase em que a sociedade entenderá a necessidade de altitude e atitude.
O Brasil não sabe até agora o que quer ser. Uma pena. Tanto potencial e tanto desperdício. E, portanto, com avanços muito aquém de sua necessidade. Por fim, como alento, no mundo agroindustrial, temos tido resultados que mostram que, se uma andorinha não faz verão, de seu espaço ela cuida muito bem e deveria, por isso, servir de paradigma para o resto da economia.
O setor como um todo tem sido a salvação do País, e, longe aqui de fazer com isso um discurso autoapreciativo ou tendencioso, critico a baixa incorporação de valor em nossas exportações, o peso da pauta primária em nossa balança de pagamentos e o foco excessivo em vantagens comparativas acima das competitivas.
Mas sem o Agro nós estaríamos definitivamente encrencados, não apenas no que se refere aos aspectos econômicos, mas também aos políticos, já que tivemos com ele acesso a mercados e discussões que elevaram nosso poder relativo. No nosso subsetor de produtos florestais, temos tido índices de crescimento extraordinários, com tecnologia de ponta,
competição aberta e vencedora, investimentos crescentes, geração de riqueza em municípios de baixo IDH, enorme responsabilidade na recuperação de florestas degradadas e pesquisas em temas de meio ambiente e sustentabilidade que nos colocam na linha de frente mundial. Tudo isso tem sido bem demonstrado nas páginas desta publicação, e seus profissionais e seus resultados falam a cada edição melhor do que eu.
Temos bons diagnósticos e propostas consistentes quanto ao que faremos com nosso rico maciço florestal, nossas fibras, nossos biocompostos, nossa energia, nossa potência ambiental. Um grupo de empresas com agenda estratégica, segura de sua relevância, apostando com segurança no que sabe ser sua vantagem sustentável. O Brasil tem força e é desejado.
Um país que produz alimentos com preço competitivo, tem abundancia de água, mercado consumidor, não tem problemas de fronteiras ou pretensões hegemônicas, tem um regime democrático, embora jovem e com políticos de baixa qualidade, aceito pelo seu povo como um valor inegociável, lida bem com a diversidade e domina florestas como poucos, tem mais futuro que passado.
Não faltam problemas para o mundo, mas há de se ter fé no engenho humano. Não será simples, não será rápido, mas acredito que estamos todos trabalhando para que o melhor aconteça. Sempre foi assim, que mantenhamos, pois, mais pessoas e esforços no lado certo.