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Elizabeth de Carvalhaes

Presidente Executiva da Bracelpa

Op-CP-30

A biotecnologia e o futuro do Planeta

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) calcula que cerca de 1 bilhão de pessoas passam fome todos os dias no mundo. Também prevê que a população mundial alcance os 9 bilhões de habitantes em 2050. Atualmente, somos aproximadamente 7 bilhões.

Governos, empresas e instituições privadas, organizações socioambientais, organismos internacionais e cidadãos em todo o mundo estão diante de um problema de dimensões gigantescas e que ainda pode agravar-se. Como enfrentá-lo?

A própria FAO estima que será preciso expandir em cerca de 60% a produção agrícola do planeta, ou seja, precisaremos produzir mais com menos recursos naturais. Portanto combater a fome da humanidade nos próximos anos é tão importante e urgente quanto a questão das mudanças climáticas causadas pela emissão de gases de efeito estufa (GEE).

Por outro lado, o desafio de alimentar o planeta também vai gerar oportunidades em muitos países, especialmente no Brasil, traduzidas na busca de soluções para aumentar a produção sem esgotar as fontes de matéria-prima.

Para se adaptar a esse novo contexto mundial, o setor produtivo terá de aprimorar as técnicas de uso da terra, da água, de energia e demais recursos, conciliando a produção sustentável dos chamados 4Fs (do inglês food, fiber, fuel and forests). Esse conceito engloba as principais demandas de cunho socioeconômico e ambiental, e sua evolução depende de decisões políticas em todo o mundo.

Nesse sentido, a biotecnologia vem se destacando como mais um instrumento para superar esse desafio mundial. Segundo a International Service for the Acquisition of Agro-Biotech Application (Isaaa), essa foi a tecnologia agrícola mais adotada nos últimos 10 anos, com uma área atual plantada 94 vezes maior do que a área existente em 1996, distribuída em 29 países.


Já existem mais de 160 milhões de hectares de culturas agrícolas transgênicas cultivadas mundialmente, e o Brasil, com uma área equivalente a mais de 30 milhões de hectares, ocupa o segundo lugar do ranking de área plantada com organismos geneticamente modificados (OGMs) no mundo.

Para a consultoria de valoração e precificação Ceteris, os benefícios da biotecnologia, já quantificados e acumulados de 1996 a 2010, incluem o incremento no volume e no valor de produção, que atingiu US$ 78 bilhões, e a provisão de melhorias ambientais, por evitar o uso de 443 milhões de quilos de ingrediente ativo de pesticidas.

Também já registram a conservação da biodiversidade, por evitar que 91 milhões de hectares adicionais de terras fossem destinados à agricultura; a redução da pobreza por meio de programas para 15 milhões de pequenos produtores; e uma redução de emissão de 19 milhões de toneladas de CO2, somente no ano de 2010.

Assim, a biotecnologia arbórea poderá contribuir para superar os importantes desafios relacionados aos 4Fs. Além disso, representa uma alternativa potencial para os distintos aspectos do tripé da sustentabilidade (social, econômico e ambiental). Estados Unidos e China, por exemplo, já aprovaram a utilização da biotecnologia arbórea em árvores de mamão e álamo.

No Brasil, no entanto, essa tecnologia ainda não foi aprovada, nem utilizada em escala comercial e encontra-se em fase de pesquisa. No total, já são mais de 800 testes e estudos desenvolvidos globalmente por acadêmicos, cientistas e institutos de pesquisa de renome internacional, além de empresas.

Benefícios: Para o setor de florestas plantadas, celulose e papel, a biotecnologia arbórea contribuirá de forma significativa em diversos aspectos, a começar pelos benefícios econômicos, com estímulo para novos investimentos, redução de custos de produção e risco de perdas e aumento de competitividade.

Entre os benefícios ambientais, destacamos o controle de pragas e doenças, aumento potencial da produtividade da madeira, redução do consumo de recursos naturais e incentivo à implantação de sistemas agroflorestais. No lado social, os benefícios podem ser ainda mais visíveis, com o atendimento de demandas geradas pelo crescimento da população mundial, a educação e a capacitação profissional e a geração de emprego e renda.

É importante ressaltar, mais uma vez, que será necessário suprir as carências sem exaurir os recursos naturais. Nesse sentido, o uso da biotecnologia poderá facilitar o atendimento da demanda por produtos de base florestal, de forma sustentável, nos mais diversos setores, como o de alimentos, energia, medicamentos, eletroeletrônicos, embalagens, calçados, higiene pessoal, automotivo, cosméticos e brinquedos, além do de celulose e papel.

O Brasil tem muito a contribuir nessa evolução da biotecnologia arbórea, por sua reconhecida excelência no manejo florestal, por ser um grande produtor agrícola e por possuir terras disponíveis para atender a parte significativa da demanda mundial, seja por alimentos, biocombustíveis ou produtos florestais.

No nível global, é preciso que governos e instituições conheçam os avanços científicos resultantes de estudos e pesquisas da aplicação da biotecnologia como ferramenta essencial para suprir demandas futuras. Além disso, é fundamental que avaliem, ampla e conjuntamente, os riscos e as oportunidades do uso da biotecnologia no contexto das propostas para o desenvolvimento sustentável.

Assim, acreditamos que a biotecnologia deve ser vista como aliada na implementação de soluções mundiais para a erradicação da pobreza extrema, a valorização das florestas na economia dos países, o fortalecimento do multilateralismo, a difusão de tecnologias para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e a proteção de recursos naturais (pagamento por serviços ambientais).

Repercussão Global: Os debates em busca de soluções para essas questões começam a ganhar novos contornos nos fóruns internacionais, graças ao reconhecimento da importância das florestas também no âmbito socioeconômico. Um exemplo é a conferência internacional que a FAO promoverá em maio de 2013, em Roma: “Forests for Food Security and Nutrition”.

A pauta é extensa, engloba diversos temas aqui expostos, como escassez de recursos naturais, medidas de proteção e conservação do meio ambiente e o papel dos governos. Isso envolve cientistas, representantes da indústria de produtos florestais, organizações socioambientais e produtores rurais. Será uma oportunidade única de apresentar boas práticas e propor soluções – incluindo a biotecnologia arbórea – que, acreditamos, podem contribuir efetivamente para o desenvolvimento global sustentável e a erradicação da fome.

O setor de florestas plantadas, celulose e papel brasileiro vem trabalhando para levar o tema “biotecnologia arbórea” aos mais diversos fóruns. Queremos envolver organizações governamentais e não governamentais, sistemas de certificação, representantes do Governo Federal, de outros setores produtivos, das universidades, entre outros públicos, em um debate que tenha por base a ciência e, a partir daí, buscar o consenso sobre a melhor solução para o futuro.