Engenheiro Agrônomo, Escritor, Especialista em Amazônia
Op-CP-28
As florestas plantadas são modelos de sustentabilidade por suprir continuamente matéria-prima das fábricas de celulose e madeira para diversas finalidades industriais. Porém essa sustentabilidade poderá ser ainda maior se consorciada com outras atividades produtivas.
São vários os fatores a serem considerados para caracterizar, na prática, a sustentabilidade de um empreendimento de silvicultura, sendo a maneira mais didática a baseada em exemplos de manejos já ocorridos.
Não é tarefa fácil conciliar o tripé que rege teoricamente a sustentabilidade, ou seja, os fatores econômico, social e ambiental, sendo que acrescentaríamos um quarto componente, o “tecnológico”, pois, sem ele, não existirá sustentabilidade, principalmente na Amazônia brasileira.
Um exemplo negativo ocorrido na Amazônia foi o ciclo da borracha (1870-1910), totalmente baseado em práticas extrativistas. Não somos contra o extrativismo, porém é preciso que se tenha tecnologia, pois, com o aumento da expansão demográfica e não havendo plantios mais adensados das essências florestais e experimentos científicos das espécies manejadas, para melhor conhecer o comportamento delas, logo o processo terá problemas econômicos, sociais e ambientais.
O mercado da borracha amazônica, ainda hoje, é o exemplo mais evidente. Nós o perdemos para os ingleses, que haviam contrabandeado sementes da seringueira para suas possessões asiáticas, com resultados catastróficos para a economia da Amazônia.
Como comparação, enquanto a incidência da seringueira nas florestas nativas de áreas de várzea da Amazônia era (e é hoje) de uma média de 10 árvores por hectare, os ingleses plantaram 900, demonstrando, portanto, a difícil condição de se ter um empreendimento economicamente sustentável em condições de competição.
A Amazônia era o berço da seringueira e poderia ter hoje grandes seringais com sustentabilidade econômica, depois de vencidas as doenças fúngicas pela experimentação continuada.
Mas isso não aconteceu, pois lhe faltou o principal fator para consolidar a atividade, ou seja, a tecnologia, que, no mínimo, poderia ter sido no método de adensamento, como bem disse recentemente Ignacy Sachs: “É possível adensar a floresta com as espécies que me interessam”.
Recentemente, lançamos um livro sobre a Amazônia, intitulado “Amazônia, as raízes do atraso”, no qual procuramos abordar as oportunidades que a região apresenta, devido às suas características naturais, propícias para a silvicultura e, de um modo geral, para a produção de biomassa, considerando a sua abundância em água, incidência de luz, inexistência de chuvas de granizo e outras condições adversas para a produção.
Porém nos falta a condição tecnológica, com a qual, sem dúvida, a silvicultura, em plantios intensivos consorciados, terá mais sustentabilidade, o mesmo acontecendo com os manejos sustentáveis das florestas nativas.
Para se obter sustentabilidade em qualquer atividade, é necessário ter tecnologia. Os seringueiros poderiam ter sido capacitados a observarem as árvores que eram mais sadias e resistentes ao ataque dos fungos, para que, mais tarde, os técnicos pudessem aproveitar esse conhecimento prático e obter clones resistentes e produtivos.
Isso nunca aconteceu, e, até os dias atuais, a maior parte das regiões amazônicas continuam com o mesmo método extrativista, não só da seringueira como também dos castanhais e das sementes oleaginosas, como o cumaru, puxuri e outras espécies; a sustentabilidade da economia é insuficiente porque não tem volume dos produtos.
Certas regiões estão em constantes conflitos, porque as populações dos castanhais e seringais aumentaram, havendo competição pelos produtos. Como consequência, a questão ambiental corre sérios riscos, porque os produtos são todos colhidos, não se mantendo sementes suficientes na floresta que possam germinar e produzir, fazendo a reposição das espécies. A situação se agrava, pois o caboclo amazônida não tem a cultura de plantar, costume herdado do nosso colonizador ibérico.
As florestas nativas da Amazônia correm sérios riscos se não forem manejadas adequadamente, com manejos sustentáveis, acompanhados de certificação. Não há condições de ela suportar a demanda desordenada dos desmatamentos.
O sonho de grandeza, vivido durante a corrida da borracha, só serviu para aumentar a dependência de toda a economia da região, em torno de um único produto extrativista, desarticulando outras atividades que poderiam proporcionar um desenvolvimento sustentável.
Durante aquele período, a borracha tinha sido tudo para a Amazônia, mas, nos primeiros anos do novo século, a concorrência dos seringais da Ásia já dava claros sinais do desastre iminente.
Naquela ocasião, o cientista Jacques Huber visitou as plantações de seringais na Ásia. Impressionado com o que viu, não usou meias palavras e anunciou que a hegemonia da borracha da Amazônia no mercado mundial estava com os dias contados.
Continuando ainda mais um pouco com o exemplo do extrativismo puro, ou mesmo com a intocabilidade da floresta como alguns ambientalistas apregoam como o modelo certo, além do risco que as essências estão correndo por não serem replantadas por adensamento (seringueiras e castanheiras), ou por falta de manejo e conhecimento de seus ciclos (espécies comerciais produtoras de madeira) e ainda devido ao aumento populacional das comunidades extrativistas, que não têm o hábito de plantar, e mesmo criar, e servem-se, apenas para a sua alimentação, dos recursos faunísticos (plantadores da floresta).
As florestas nativas precisam ser olhadas pelo governo brasileiro como um grande negócio para diminuir a pobreza da Amazônia, considerando que, para cada emprego direto proporcionado por uma área em regime de manejo sustentável, haverá seis indiretos.
A título de informação, segundo Antonio Carlos Hummel, 20 milhões dos 239 milhões de hectares de florestas públicas da Amazônia apresentam condições que justificariam adotar o modelo de exploração sustentável.
Vamos tratar, a seguir, de métodos mais consistentes sobre a sustentabilidade, baseado no exemplo que tivemos a oportunidade de conduzir, quando ainda éramos funcionários da Empresa Jari, na qual tivemos a oportunidade de trabalhar pelo período de trinta anos.
O exemplo prático foi executado com uma floresta plantada com o Pinus caibaea, Vr. Ondurenses, mas que poderá também ser com eucalipto, paricá (Shizolobium amazonicum) ou outra espécie, sendo a cultura florestal a principal, do ponto de vista econômico, que poderá ser ajudada, na sua sustentabilidade, por outras atividades consociadas.
O manejo consorciando silvicultura de pinus com pecuária na empresa Jari, quando ainda pertencia a Daniel Keith Ludwig, na época um dos homens mais ricos do planeta, o qual tinha interesse pessoal no programa, que era visitado por ele anualmente, desde o seu início, no ano de 1976, era assim: denominado silvopastoril, foi executado em uma área de 10 mil hectares, com 3 mil bovinos, abrangendo as fases de cria, recria e engorda, utilizando a tecnologia de inseminação artificial com sêmen de raças europeias para corte, em vacas nelore, com ótimos resultados zootécnicos, tendo sido inseminadas, em média, 1.200 matrizes por ano.
O plantio do pinus foi efetuado no espaçamento de 4 metros entre as linhas e 2,2 metros entre plantas, existindo também espaçamentos de 4x3 metros. O plantio das gramíneas foi feito após o plantio do pinus, com um espaço de tempo de trinta dias.
A densidade do plantio do capim, no caso o colonião, foi de duas linhas ao centro, em cova aberta e distante uma da outra um metro. Somente após um ano, os animais teriam acesso ao capim. Nos primeiros meses, o manejo dos animais requeria cuidados para que não houvesse pisoteamento do pinus.
A carga de animais por área dependia do tamanho do piquete. Era feito rodízio, avaliando a altura do capim pastado, embora o suporte fosse até o quarto ano de 1 U.A (400 kg bruto) por hectare. Após o quarto ano, começaram as dificuldades da pecuária na arregimentação dos animais, diminuição das pastagens devido ao sombreamento da floresta e queda de acículas do pinus.
O manejo florestal restringia-se ao combate à saúva e a roçagens periódicas, em número comprovadamente bastante inferior, comparadas com áreas onde não havia o plantio de gramíneas, demonstrando, dessa maneira, uma ajuda substancial na sustentabilidade econômica da floresta.
Para avaliar a metodologia de produção consorciada, comparamos duas áreas da mesma idade plantadas com a mesma espécie florestal, sendo uma com plantio somente de floresta e a outra consorciada com pecuária, cujos resultados após a colheita da madeira foram os seguintes: a área manejada com pecuária e floresta atingiu um volume de medida de 126 m³, sem casca, e a sobrevivência do plantio até o corte raso foi de 80% (920 árvores).
A área com apenas silvicultura, com as mesmas características, teve um volume de madeira de 118 m³, sem casca, e a sobrevivência foi 74% (846 árvores). Portanto, já há 36 anos, em plena Amazônia, foi realizado um programa consorciado entre silvicultura, como a principal atividade econômica, e a pecuária bovina, demonstrando que uma atividade secundária poderá ajudar a manter a sustentabilidade florestal no seu tripé econômico, social e ambiental, sendo utilizada tecnologia de ponta nas duas atividades.
Na pecuária, na qual éramos os coordenadores do programa, utilizávamos sêmen importado dos melhores touros provados do mundo das raças Charolês, Herefford, Quianina, Marcgiana, Santa Gertrudes, inseminando vacas da raça Nelore, obtendo um produto na geração F1 de altíssima qualidade, sendo o cruzamento de melhor performance com Charolês: na desmama, machos e fêmeas, com idades entre 8 a 10 meses, pesavam 263 Kg e 245 Kg, respectivamente; no abate, na faixa de 24 a 36 meses, os machos pesavam em média 444 Kg brutos.
A conclusão a que se chegou na prática em consorciar pecuária com silvicultura na Jari foi positiva em certos aspectos, pois, além do comprovado aumento da matéria-prima da essência florestal, foi também observado menor número de limpezas anuais e combate a saúvas.
Do ponto de vista do manejo do rebanho, por ser a área de responsabilidade da gerência florestal, o planejamento era direcionado com prioridade à silvicultura, porém não existem dúvidas de que as duas atividades podem ser operacionalizadas em conjunto em prol da sustentabilidade econômica, social e ambiental, devendo ser estimulada a sua prática nos manejos das florestas amazônicas ou, por que não dizer, nas florestas brasileiras.
Cabe aqui também mencionar que a sustentabilidade obedece a limites, e um determinado empreendimento poderá ou não ainda ter o que avançar, ou já estar comprometido com a sua expansão, não tendo mais como evoluir com a mesma velocidade de quando ainda não havia atingido as suas condições máximas, mesmo já tendo utilizado tecnologia.
No nosso exemplo, uma experiência vivida pelo período de 10 anos, embora tenhamos utilizado a área para pecuária com alta tecnologia abrangendo as modalidades de cria, recria e engorda, sugerimos que a utilização mais adequada para o consórcio floresta/pecuária seja a de recria e engorda.