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Felipe Schroeder Vieira

Gerente de Vendas e Marketing da Komatsu Forest

Op-CP-60

Não podemos alegar que não sabíamos
Em 1989, o personagem Marty Mcfly explorava o hipotético ano de 2015 nas telas de cinema em “De Volta para o futuro 2”. Aparatos tecnológicos, e o próprio ano de 2015, pareciam coisas muito distantes. Anos antes, em 1987, W. Bennis e B. Nanus apresentavam o conceito de mundo VUCA. Um acrônimo em inglês que significa Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade.

A sigla foi usada nas discussões de liderança sobre o cenário pós-colapso da antiga URSS. Voltamos ainda mais, meados de 450 a.C, o filósofo Heráclito de Éfeso já disse: “A única constância é a mudança”. Pois bem, não podemos alegar que não sabíamos que tudo continuaria mudando. A pandemia da Covid-19 nos mostrou quão globalizados e interconectados somos.

As relações políticas, de comércio, de negócios e até mesmo interpessoais foram e continuam sendo desafiadas. Não seria diferente no cenário de trabalho. O setor florestal tem se adaptado a esses novos tempos. Olhamos o mapa do Brasil e logo nos deparamos com as distâncias e os desafios que um país continental nos impõe.

Nosso setor está do Oiapoque ao Chuí. Na linha de frente de cada área plantada ou de cada indústria, estão pessoas ligadas ao campo e a um lugar. Na cadeia de fornecedores de máquinas, implementos e insumos, de suas matrizes, empresas dividem as áreas de atuação de suas equipes. Logo aí, nos deparamos com os primeiros desafios de mudança.

A pandemia desafia os líderes e os gestores das empresas a buscarem uma nova forma de se relacionar. O presencial, em alguns casos, precisa ser revisto. Falar de home office, lives e reuniões on-line parece “chover no molhado”. Mas não é! De um jeito quase forçado, profissionais da área florestal também tiveram que se enquadrar.

As reuniões e viagens entre sites, visitas a clientes e fornecedores passaram a ser virtual. As ferramentas que nos conectam uns com os outros já mudaram o nosso jeito de nos relacionar. Se o desktop já tomava cara de antiquado, agora os arquivos importantes estão em nuvens, e trabalhamos a partir de aplicativos de smartphones ou tablets.

O desafio, hoje, é estar presente, com seus produtos e soluções, de uma maneira remota. Mas, se a atividade florestal se materializa no campo, como fica este tema de “presença on-line”? Aí mora o desafio. No caso da colheita florestal, por exemplo, as máquinas ainda não operam e nem se mantêm sozinhas.

Precisamos do operador, do mecânico e dos profissionais de colheita e manutenção; assim como das próprias máquinas e peças. Talvez Marty Mcfly pudesse nos contar como será lá na frente; por ora, temos visto tecnologias que já começam a se mostrar promissoras para esses novos desafios.
 
O livro Organizações Exponenciais nos conta que, seguindo um caminho de seis etapas, tecnologias se tornaram exponencialmente disruptivas e, cada vez mais, acessíveis em termos de custo, impactando e criando ondas de inovação. Os passos foram: se tornar digitalizado, deceptivo (tecnologia avançando, mas ainda não amplamente utilizada), disruptivo, desmaterializado e desmonetizado.

Querem uma reflexão? Atualmente, nossos smartphones têm mais capacidade computacional do que a NASA tinha quando mandou o homem à Lua, e de uma forma financeiramente acessível. Para essas tecnologias chegarem ao campo, é apenas questão de tempo. Mas de quais tecnologias, na prática, estamos falando? Iniciamos pela área de manutenção de máquinas e de treinamentos.

O acesso à internet em regiões remotas nos permitirá colocar em prática uma ferramenta já existente, mas com pouco histórico de aplicação no campo florestal do Brasil. Óculos de realidade aumentada equiparão a caixa de ferramentas de técnicos das empresas florestais. Ao invés de solicitar por um serviço, aguardar a disponibilidade e o deslocamento do mecânico até o local, os mecânicos equipados com esses óculos entrarão em contato direto com o fabricante.

O fabricante, por sua vez, estará em sua base, com todos os recursos necessários para guiar o mecânico a realizar o reparo. Com o auxílio dos óculos de realidade aumentada, o engenheiro ou o técnico de serviço do fabricante de equipamentos poderá visualizar, em tempo real, o que o mecânico do cliente está visualizando.

Através de recursos audiovisuais, o engenheiro de serviços conseguirá projetar, na tela dos óculos, instruções do que necessita ser feito, poderá mostrar fotos, imagens, catálogos e demais informações relevantes para que o trabalho seja feito. Com novas possibilidades de transmissão de dados, a gestão em tempo real da performance de cada máquina e de cada operador se torna acessível.

A aplicação dessa tecnologia trará resultado na redução do custo operacional e na produtividade dos equipamentos. Em um futuro não muito distante, a inteligência artificial será capaz de unir todas essas pontas e poder fazer reparos automáticos com os aprendizados de reparos ou ajustes passados.

Se você, leitor, está pensando que tudo isso é coisa de ficção científica, é bom repensar. Todas essas tecnologias já estão em ampla aplicação em outros segmentos. É questão de tempo, custo e quebra de paradigmas para chegarem às florestas. Os treinamentos de operadores e de mecânicos também mudarão.

Desta vez, são os óculos de realidade virtual, somados a softwares que simulam o ambiente de trabalho, que serão os grandes disruptores. Grandes empresas já utilizam óculos de realidade virtual para ensinar e treinar procedimentos específicos para seus funcionários. Aí se ganha escalabilidade.

Entregas técnicas e treinamento de operadores de veículos pesados já são feitos, com o auxílio de óculos de realidade virtual e um smartphone. Tudo isso a custos inferiores a US$ 10 por óculos. Imaginem as possibilidades! De imediato, ganhamos repetibilidade do processo de treinamento, reduzimos tempo de espera e recursos físicos e humanos para realizar a tarefa.
 
A gestão interna da empresa também mudará. Empresas como Google e Siemens anunciaram adesão prolongada ou permanente ao home office. Isso mudará a forma de gerir e engajar equipes, agora a distância. Na área comercial, novas ferramentas já estão sendo aplicadas para o planejamento da rota de visitas, gestão de dados do cadastro, configuração de equipamentos e propostas comerciais, e assinatura dos pedidos.

As informações são analisadas pelo departamento de inteligência e pela gerência comercial, em tempo real. Mas, nesse cenário empolgante, nem tudo são flores. Ainda há caminhos a serem percorridos quanto à criação e validação de tecnologias. Porém a adoção dessas tecnologias e a sua incorporação dentro dos nossos hábitos de trabalho são um ponto crítico.

Da mesma maneira que as mudanças são inevitáveis, é inevitável a resistência humana a elas. Concluímos que a pandemia da Covid-19 foi um grande catalisador das mudanças. Processos que, antes, eram vistos como importantes para o futuro, hoje se tornaram necessários.

Quando somamos os best sellers Rework com o Organizações Exponenciais, concluímos que planejar olhando no retrovisor é, no mínimo, arriscado. A maioria dos executivos não previu algo tão impactante como o que estamos passando (se é que o fato em si é previsível), portanto olhar para o futuro, entender os impactos das novas tecnologias e abraçar a mudança será cada vez mais importante.