Me chame no WhatsApp Agora!

Yeda Maria Malheiros de Oliveira

Pesquisadora da Embrapa Floresta

OpCP81

As plantações florestais geridas para além da produção de madeira
A produção de madeira é a atividade mais obviamente percebida pelo público em geral, quando se trata do setor de base florestal. Neste contexto, incluem-se: celulose e papel, painéis de madeira, pisos laminados, madeira serrada, carvão vegetal e pellets, entre outros produtos de menor expressão quantitativa.

Realmente, trata-se de uma atividade altamente relevante, que atualmente está na quinta posição em comparação com outros setores da economia brasileira, representando 1,2% do Produto Interno Bruto nacional. 
 
Entretanto, o setor de base florestal também acumulou experiência e conhecimentos que o posicionam reconhecidamente como a atividade do agronegócio que mais tem respeitado e contribuído para a sustentabilidade do meio ambiente. 
 
Os números são impressionantes e, segundo o Relatório Anual da IBÁ de 2024, fazem parte dos imóveis rurais vinculados ao setor de florestas plantadas: 
a. 1,94 milhão de hectares de Áreas de Preservação Permanente (APPs); 
b. 4,88 milhões de hectares de Reserva Legal (RLs); 
c. mais de 100 mil hectares destinados a Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN). 

Paisagens rurais (com florestas nativas, plantações florestais e sistemas agrícolas) 

A importância econômica, social, ambiental e cultural das florestas plantadas tem sido amplamente reconhecida, inclusive pela FAO, que já em 2006 apresentou as “Diretrizes Voluntárias para o Ordenamento Responsável de Florestas Plantadas” (termo amplo que inclui as plantações florestais comerciais, tema de nossa abordagem). São muitos os benefícios diretos e indiretos das plantações florestais, incluindo:
a. a geração de emprego e renda; 
b. o controle de pragas e polinização; 
c. o fornecimento de produtos não madeireiros, que incluem frutos, resinas, óleos essenciais, mel e plantas medicinais; 
d. o turismo rural; 
e. a preservação de valores culturais, educativos, recreativos e paisagísticos; 
f. bioenergia. 

Entretanto, por necessidade de síntese, vamos nos ater a um dos aspectos mais relevantes, ou seja, as plantações florestais na paisagem.

Mosaicos florestais, a paisagem rural e o manejo ecossistêmico:
Os denominados mosaicos são formados pela adjacência entre áreas com florestas plantadas e outras formas de uso e cobertura da terra, sob a ótica da formação de corredores ecológicos. Tais áreas adjacentes podem ser compostas por vegetação florestal nativa, sob a forma da APPs, RLs, RPPNs, e também por fragmentos florestais adicionais, seja em propriedades rurais, áreas públicas ou em Unidades de Conservação. O planejamento ocorre em nível de paisagem quando é possível, ao poder público ou às comunidades, perpassar as fronteiras das propriedades visando a continuidade de tais corredores.
 
Tal modelo é característico das empresas de base florestal e, assim, sob o guarda-chuva dos mosaicos, encontram-se benefícios ecossistêmicos, entre os quais destacam-se: 
 
Conservação da biodiversidade: No que se refere ao contexto da fauna, há constatações que permitem afirmar que as plantações florestais estão muito distantes do conceito de “deserto verde”, pelo contrário. A fauna circula livremente entre fragmentos nativos e os plantios, com segurança e sob cobertura. As plantações são ambientes onde há pouca interferência humana, no dia a dia. Já com relação à flora, a presença de plantações florestais, além de proteger o fragmento nativo, tende a diminuir o efeito de borda, ou seja, menor redução de biodiversidade e da qualidade ambiental típica das áreas “de franja”, limítrofes dos fragmentos.
 
Proteção do solo, dos recursos hídricos e da qualidade do ar: As plantações florestais são tradicionalmente implantadas em áreas com menor aptidão agrícola, o que é um desafio para a engenharia florestal. Assim sendo, devem ser manejadas, desde a sua implantação para ter menos impacto no solo e recursos hídricos, quando comparadas às culturas agrícolas, seja pela periodicidade das intervenções (rotações mais longas), seja pela aplicação diferenciada de insumos, pela permanência de resíduos no solo após colheita, seja pela própria característica de percolação, permitida e incentivada pelos troncos e raízes.

Os atuais equipamentos e técnicas de colheita florestal permitem a redução da compactação do solo em até 40%, em comparação a processos tradicionais de colheita. Adicionalmente, a extração de nutrientes pelas árvores não é maior do que a de outras lavouras, como café, algodão, soja, milho, laranja e, também, as pastagens. Assim, se é verdade que o desmatamento promove desestabilização do solo, a situação inversa, de cobrimento florestal, no contexto da paisagem, reduz erosão, melhora a infiltração de água e protege bacias hidrográficas, reduz a poluição e melhora a qualidade do ar. Ademais, a deposição contínua de resíduos (galhos, folhas e casca), ao longo dos ciclos, proporciona benefícios ambientais como: proteção contra cheias, redução de extremos térmicos e da perda de água por evaporação ou escoamento superficial.

Também propiciam o aumento da biomassa microbiana do solo e mineralização/ciclagem de nutrientes por meio da serapilheira, estabelecendo o processo de decomposição, liberação e absorção de nutrientes, num completo ciclo biológico. Caso os resíduos da colheita sejam utilizados para transformação em energia, os ganhos ocorrem ainda mais, melhorando o balanço energético da empresa. 
 
Benefícios relacionados à mudança do clima: Ao longo dos diferentes ciclos, a silvicultura brasileira tem desenvolvido práticas que levam a um aumento da capacidade de armazenamento do carbono, exemplificadas: 
a. pela eliminação da necessidade de queima para limpeza da área de plantio; e 
b. pela adoção do cultivo mínimo (preparo reduzido de área). 
 
Também têm sido bem-sucedidas as conversões de áreas de pastagens degradadas em plantações florestais, o que pode ser considerado uma medida de mitigação das mudanças do clima. Adicionalmente: os solos florestais têm expressiva contribuição na redução das emissões de metano, um gás de efeito estufa importante.

Foi observado, no sul do Brasil, que a absorção desse gás em solos sob plantios de Pinus taeda, mesmo sendo de menor grandeza quando comparado à floresta nativa adjacente (estágio intermediário de sucessão), é bastante expressivo, com taxas da ordem de 3 kg de C-CH4 ha-1 ano-1. Fazendo uma conta simples: temos 10,2 milhões de hectares com florestas plantadas e planta-se 1,8 milhão de árvores por dia; se isso for somado aos 6,91 milhões de hectares de vegetação natural conservados em mosaico (conforme acima), estima-se que o setor estoque 4,92 bilhões de toneladas de CO2eq, com números crescentes, diariamente. 
 
Muito se poderia adicionar ao que foi apresentado, que se configurou apenas em uma pequena pincelada no que se refere aos benefícios das plantações florestais, na paisagem. Inclui-se nesse contexto a adoção de técnicas e ferramentas de análise geométrica em aplicações visando avaliar e quantificar o padrão espacial da paisagem florestal, desenvolvidas pela Embrapa Florestas e que podem contribuir para o processo decisório em relação a processos de manutenção e restauração da paisagem. Entretanto, o mais importante é que estressemos, cada vez mais, a importância das plantações florestais como componente rural fundamental para a sustentabilidade, em todos os sentidos.


Propriedades adjacentes


Propriedades adjacentes com corredor ecológico em comum


Propriedades adjacentes a Unidade de Conservação