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Paulo César Pavan

Gerente de Produto e Processo da Fibria Celulose

Op-CP-49

O protagonismo da indústria florestal na sociedade
O protagonismo da indústria florestal na sustentabilidade do planeta pode ser explicado por:
a. Legado: o reconhecimento que lhe é devido pelo valor e benefícios gerados;
b. Compromisso ambiental e social: a responsabilidade no desenvolvimento de novos negócios com respeito ao meio ambiente e às pessoas, com práticas de manejo florestal, novos produtos e processos de produção que contribuam ainda mais para construção de um mundo mais sustentável;
c. Compromisso com os stakeholders: a transformação da indústria florestal não advém apenas daquilo que pode entregar à sociedade em termos de sustentabilidade do planeta, mas sustentabilidade do próprio negócio, fortalecendo e prolongando os genuínos interesses de todos os stakeholders.
 
O legado da indústria florestal – e da Fibria em particular – se baseia na riqueza gerada e compartilhada, na preservação e restauração dos serviços ecossistêmicos (recuperação de áreas degradadas e plantios de espécies nativas), na consequente fixação de carbono e no desenvolvimento social das comunidades vizinhas. 
 
Essas conquistas são suportadas pelo crescente consumo de papel no mundo. Há fatos e informações que comprovam esse valor que a indústria florestal tem gerado à sociedade global. De acordo com dados da Indústria Brasileira de Árvores – Ibá, a indústria florestal brasileira é composta por 7,8 milhões de floresta plantada e 5,6 milhões de hectares de floresta nativa. 
 
Essa indústria preserva e/ou recompõe 0,7 hectare de floresta nativa para cada 1,0 hectare de floresta plantada. Esse conjunto de ativos, estocado e circulante de carbono, representa 4,2 bilhões de toneladas de CO2 equivalente. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO, as florestas no mundo armazenam um volume de carbono de 2 a 3 vezes superior ao existente na atmosfera, e a manutenção ou o aumento de estocagem via florestas é tão efetivo que 70% dos países que publicaram seus planos de mitigação de carbono incluíram como ação o investimento em florestas e/ou redução do desflorestamento.

Quando passamos para produtividade, vemos em dados publicados que a produtividade de florestas plantadas no Brasil, nessa década, é quase o dobro do que a registrada na década de 1990. O consumo específico de produtos químicos na atividade florestal, por sua vez, é cerca de 20 vezes menor quando comparado ao de outras culturas.
 
Na indústria de celulose, podemos ilustrar o benefício da evolução tecnológica no consumo específico de água e na gestão energética. Em pouco mais de vinte anos constata-se com dados de projetos reais que a geração específica de efluentes no branqueamento foi reduzida em 20%; a geração específica de energia em caldeiras de recuperação aumentou quase 20%; e o consumo específico de combustíveis fósseis em fornos de cal apresentou redução de 10%. Nesses exemplos já se observa parte do legado devido à indústria florestal, baseado em entendimento de responsabilidade e avanço tecnológico.
 
Em relação ao compromisso ambiental e social, a indústria florestal tem um papel transformador, e pode oferecer à sociedade alternativas mais sustentáveis de consumo. O setor tem avançado lenta, mas assertivamente, com pesquisas e inovações para fornecer à sociedade novos materiais, produtos químicos e combustíveis – todos derivados da biomassa da madeira. Podemos listar uma série de iniciativas, como:
 
• Madeira para Construção: ainda muito pouco explorada no Brasil se comparado à América do Norte e Europa. Os mais recentes avanços fazem uso do CLT (cross laminated timber), usado sozinho ou complementando estruturas parciais de concreto na construção de prédios que já alcançam 18 andares. Nesse uso, cada m3 de madeira mantém cerca de 1 ton de CO2eq estocado, além de evitar o lançamento de 1 ton de CO2eq na produção do cimento/concreto; ou seja, 2 ton de CO2eq de benefício para cada m3 de madeira usado.
 
• Polpa solúvel, polpa para papel e seus derivados como celulose microfibrilar (MFC) podendo suprir a crescente demanda de vestuário no mundo. Tecnologias disruptivas mostram-se capazes de substituir fibra de algodão com polpa de madeira usando 1% da água requerida na cadeia do algodão, 80% menos energia, e sem produtos químicos tóxicos.
 
• Nanocelulose, CNC, MFC, nanomaterial acessível em escala comercial, que pode ser produzido e funcionalizado por diferentes processos. Essa classe de materiais vem sendo investigada e utilizada como material funcional em medicina reparativa, eletrônica, mas também substituindo insumos não renováveis como agentes de modificação de reologia.
 
• Lignina: maior fonte de aromático de origem renovável, sub-produto dos processos de polpação e, atualmente, queimada para geração de energia. A lignina pode ser desenvolvida e usada para dar origem a alternativas renováveis para produtos derivados de petróleo como combustíveis, resinas, aditivos de borracha, blendas termoplásticas e vários outros. 
 
• Celulose e/ou Hemicelulose: tradicionalmente usados para produção de papel e em suas formas isoladas na indústria química e têxtil. Esses polímeros são agora considerados em rotas biotecnológicas para produzir álcoois e ácidos orgânicos para suprir uma demanda crescente por feedstocks renováveis para várias indústrias.
 
• Terebintina: resina derivada de coníferas, extensivamente usada como solvente, como aditivo em várias indústrias e cada vez mais como precursora na produção de diesel.
 
• Em várias diferentes composições, a madeira – ou ainda os resíduos florestais – vem sendo utilizada em processos termoquímicos como gaseificação e pirólise para gerar combustíveis gasosos e líquidos, que podem ser utilizados diretamente em aplicações industriais ou convertidos a combustíveis drop-in, produtos químicos, ou voltados à indústria de alimentos.

Nesses exemplos que ilustram o amplo espectro de aplicação da biomassa florestal, observamos quanto maior pode e deve ser o protagonismo da indústria florestal em suprir a sociedade com alternativas renováveis, carbono-neutro ou carbono-negativo. Além de um compromisso ambiental, há nisso uma oportunidade econômica objetiva. A evolução tecnológica que permeia esses processos ocorre em alta e crescente velocidade. Muitas rotas surgem e se viabilizam em curto espaço de tempo, demandando uma abordagem muito mais dinâmica para serem acompanhadas. 
 
Incentivos governamentais – ou mesmo a taxação de carbono – podem ter papel relevante para acelerar os investimentos necessários. Entretanto, a maior dificuldade nessa transformação aparenta ser a resistência que uma indústria tradicional e madura apresenta frente a novas oportunidades de negócios e novos mercados, que implicam maior risco diante do que tradicionalmente tomam. 
 
Um desafio adicional que se coloca como parte dessa transformação é o de conseguir conectar-se ao novo e exuberante centro de gravidade da inovação, que migrou das grandes corporações para microempresas, startups, empreendedores etc. Tentativas de se fazer essa conexão de forma eficiente estão em curso. Para ilustrar, vale citar o caso da Fibria, que lançou recentemente uma plataforma de inovação aberta, Fibria Insight (www.fibriainsight.com), que já apresenta dois desafios divulgados.
 
Por fim, chegamos ao último ponto: o que essa indústria deve fazer para manter sua relevância, sua competitividade e a sustentabilidade do negócio, resguardando os interesses de seus stakeholders num horizonte mais longo de tempo. Cadeias de valor tradicionais estão se desmanchando em velocidade crescente pelo advento de novos modelos de negócio, disruptivos, que envolvem tecnologia da informação, capacidade de processamento, conectividade, sensoriamento, automação, economia do compartilhamento, fenômenos de mídias sociais etc. Indústrias tradicionais devem, portanto, transformar-se igual e rapidamente para não assistirem sua decadência. 
 
Ilustrando isso, vemos que apenas 12% das empresas listadas pela revista Fortune 500 em 1955 figuravam na mesma lista em 2015. Também em 1955 a permanência média de empresas no índice S&P 500 era de 33 anos e projeta-se que em 2026 será de 14 anos. Da atual lista S&P 500 espera-se que 50% delas sejam substituídas nos próximos dez anos.
 
Parece ser inegável que o negócio florestal, como ativo biológico e fonte de matéria-prima renovável, vai ganhar importância ao longo do tempo. Difícil, entretanto, é chegar à mesma conclusão para a indústria de celulose, por exemplo. Players relevantes na indústria global de papel já estão se redefinindo e considerando polpa e papel como apenas um dos seus vários negócios a partir de biomassa florestal. 
 
Tecnologias emergentes podem desafiar os importantes mercados de papel para embalagem, papel de impressão e, por que não, papel tissue? É, pois, imperativo que a transformação esperada pela sociedade seja vista não apenas como uma oportunidade, mas, antes de tudo, como uma antecipação às ameaças aos mercados seculares da indústria de papel. Cabe a nós assumirmos o protagonismo numa velocidade compatível à velocidade de mudança no mundo, aumentando a base florestal e as aplicações dessa nobre biomassa.