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Igor Dutra Souza

Gerente de Manejo Florestal da Vallourec Florestal

Op-CP-51

Colheita florestal: como planejar os detalhes
Considerada a área mais avançada do setor florestal, a colheita desperta a curiosidade de leigos, visto a imponência e a beleza das máquinas utilizadas nos processos produtivos, o interesse de profissionais que desejam trabalhar em máquinas altamente sofisticadas e de engenheiros, por exemplo, devido ao grande desafio que é melhorar os atuais sistemas, que muito evoluíram desde o início da mecanização na década de 1970.
 
Apesar dos avanços das máquinas e dos procedimentos operacionais, a pressão por reduzir os custos tem colocado clientes e fornecedores em contato frequente para, juntos, buscarem melhorias nas máquinas base e nos implementos utilizados nas atividades de colheita. Essa pressão também tem forçado e/ou acelerado a visão integrada das atividades produtivas da área florestal, uma vez que a visão unilateral dos processos já não tem mais lugar. Com essa nova visão da área florestal, diversas opções de melhoria e desenvolvimento têm surgido, possibilitando, por exemplo, a integração de máquinas nos processos de silvicultura e de colheita florestal. 
 
Essa integração permite maior flexibilidade no planejamento e na distribuição das operações de colheita e de silvicultura ao longo do ano, concentrando as atividades nos períodos que possibilitam o maior desempenho operacional e, consequentemente, de menor custo. 
 
Para extrair o máximo de cada atividade, de acordo com a visão integrada dos processos produtivos, o planejamento operacional deve ser muito criterioso e detalhado, pois estabelece as premissas para cada atividade. Ao mesmo tempo, é preciso pensar no todo, ou seja, na forma de se alcançar o menor custo possível para o produto final da empresa. Logo, os impactos entre as atividades devem ser mapeados e analisados com profundidade para que sejam tomadas ações para reduzir, ao máximo, as perdas. 
 
Faço essa consideração devido às grandes oscilações que estão acontecendo nas operações florestais e que são impactos de decisões do passado, no qual o pensamento por processo prevalecia. Uma dessas operações é a colheita florestal, cujo resultado é totalmente dependente do layout do talhão, do material genético, da produtividade da floresta e do objetivo para o uso final da madeira.

Outra variável utilizada atualmente, e que às vezes não considera o impacto para a colheita, é o processo de condução com dois fustes. Quando se faz o corte raso, gera-se uma “sapata” que ocupa um espaço adicional nos implementos de todas as atividades, acarretando perdas de produtividade. Todas as variáveis supracitadas impactam no rendimento das máquinas utilizadas nas atividades de colheita florestal, portanto, devem ser consideradas para definir o planejamento operacional da empresa e para reduzir os impactos em uma das operações mais caras do setor florestal, a colheita.
 
Depois dos grandes avanços das máquinas utilizadas nas operações florestais, e devido à redução da possibilidade de grandes alterações em suas estruturas no curto prazo, a ponto de impactar drasticamente os rendimentos operacionais, as empresas têm buscado outras linhas de trabalho, até então pouco exploradas, com a finalidade de aprimorar a atuação dos operadores e gestores.

Um grande exemplo é a utilização de imagens de satélite e/ou drone para identificar variáveis que impactam nas operações, podendo citar: falhas na formação das florestas, disposição das linhas de plantio (talhões que não tiveram o plantio georreferenciado) e a presença de árvores nativas, informações básicas que precisam fazer parte da elaboração do microplanejamento operacional. Esse mesmo padrão de imagem é obtido pós-atividade de colheita para identificar oportunidades de melhoria na execução das atividades, exatamente por oferecer uma visão diferenciada do talhão. Nessa linha, o uso do drone também permite a filmagem das operações que, posteriormente, é editada para utilização no treinamento dos operadores, sendo possível identificar particularidades que até mesmo os operadores desconhecem. 
 
Chegamos a um patamar de operação em que os detalhes estão fazendo diferença, exigindo um olhar clínico dos gestores de campo e instrutores operacionais para identificar qualquer movimento inadequado. Esse padrão de filmagem possibilita ângulos ainda não trabalhados pelos instrutores operacionais, o que permite corrigir a posição da máquina, quantas linhas cortar, eliminar movimentos inadequados de esteira, melhorar a disposição dos feixes de madeira dentro do talhão, reduzir os chamados movimentos “mortos”, estudar o impacto do vento, entre outros. 

Esse avanço não permite apenas apontar falhas na operação, acrescenta-se a ele a possibilidade de identificar o que os melhores operadores fazem e que os diferenciam do restante da equipe, abrindo uma opção de desenvolvimento profissional de acordo com os melhores padrões operacionais, além de gerar e manter um arquivo que demonstra os melhores padrões de operação na empresa.
 
Com o avanço no uso das informações embarcadas no sistema das máquinas, dificuldades como a operação noturna, principalmente na atividade de baldeio com skidder, começam a ser amenizadas com a criação das cercas virtuais para auxiliar na localização do operador, fazendo com que a madeira seja baldeada e distribuída de maneira uniforme na borda do talhão. Esse é mais um pequeno ajuste na operação e que traz ganhos para a próxima atividade, o processamento da madeira. Se já era importante, ganhou ainda mais importância com a utilização de equipamentos altamente produtivos, por exemplo, a escavadeira de 35 t com conjunto traçador de 1,45 m². 
 
Se essa distribuição não for planejada, antes da atividade do baldeio, a escavadeira terá sua produtividade afetada, pois corre o risco de ter pouca madeira concentrada para otimizar o enchimento do conjunto traçador e aumentar o deslocamento da máquina, gastando-se horas sem produção. Essa variável tem um peso significativo com a utilização de equipamentos desse porte, visto que apresenta um elevado consumo de combustível, motivo pelo qual deve-se compensar na produtividade, caso contrário, a operação não se viabiliza. Nesse porte de equipamento, não podemos mais falar em litros/hora, mas sim em litros/m³ de madeira processada. Esse indicador de eficiência energética também sinaliza se o dimensionamento entre máquina base e conjunto traçador está correto.
 
No curto prazo, o destaque no setor de colheita florestal será a intensificação do uso das tecnologias embarcadas nos equipamentos, ou seja, teremos pouca mudança em máquinas e implementos. O foco do direcionamento será a maximização dos ativos. As máquinas com alta tecnologia e com alta produtividade aumentam a rentabilidade da operação, mas, em contrapartida, exigem um novo padrão de estruturação dos processos, e, sobretudo, um novo padrão de competência para a operação e a manutenção dessas máquinas. 
 
Esse novo padrão de competência deve ter foco em segurança, qualidade, produtividade e eficiência operacional e mecânica. Estamos seguindo um novo caminho quanto ao porte dos equipamentos e da produtividade dos implementos, colocando ou aumentando ainda mais a responsabilidade do setor de manutenção mecânica, uma vez que as pequenas paradas representam perdas muito maiores, quando comparadas com o passado recente.

Será intensificado o desafio do setor de manutenção quanto à busca de novos desenvolvimentos para otimizar essas paradas mecânicas. Serão necessários novos produtos para aumentar os intervalos entre as intervenções, por exemplo, da manutenção preventiva. 
 
A mecanização do setor florestal continuará evoluindo, a necessidade de redução de custos ainda mais latente, bem como a qualidade e o prazo de atendimento. Nada disso será possível se não tivermos um ambiente que seja propício para transformar a realidade gerencial, potencializar resultados e melhorar o aproveitamento do potencial humano, permitindo que o aprendizado seja cada vez mais rápido e efetivo.

Essa nova realidade gerencial deve ser capaz de eliminar desperdícios de forma contínua, resolvendo os problemas sistematicamente. Logo, é necessário repensar a maneira como se lidera, gerencia e desenvolve pessoas. Esse desenvolvimento e o pleno engajamento das pessoas serão capazes de vislumbrar oportunidades de melhoria e de ganhos sustentáveis. Não há outro caminho.