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Sharlles Christian Moreira Dias

Coordenador de Nutrição, Manejo e Proteção Florestal da Eldorado Brasil Celulose

Op-CP-51

Desafios e oportunidades
Pouco mais de um século! 
 
Essa é a idade da silvicultura brasileira se considerarmos a introdução e a expansão dos plantios comerciais de eucalipto como um importante marco florestal. Se compararmos com a história da agricultura nacional, veremos que essa trajetória é bastante recente, mas com resultados consistentes em evolução de tecnologia e produtividade.

De lá pra cá, ampliamos área plantada, produzimos conhecimento e, em menos de meio século, saltamos da ordem de 10 a 15 m³/ha/ano de madeira para produtividades superiores a 60 m³/ha/ano, aos 7 anos. De acordo com informações da IBÁ (2017), o Brasil possui cerca de 7,84 milhões de hectares de florestas plantadas, das quais 72,3% são de eucalipto e 20,2% de pínus.
 
Apesar da aparente estabilidade evidenciada pelos ganhos citados, em termos florestais, a dificuldade de prever a sustentabilidade aumenta quando se consideram longos espaços de tempo e vastas áreas plantadas. A produtividade florestal é uma resultante da expressão do potencial genético e das interações dela com os fatores de clima e solo e também às práticas silviculturais aplicadas.

Os dados mostram que o Brasil atingiu elevado patamar de produtividade, quando comparado com outros países de base florestal, porém, neste momento, surgem os principais desafios para continuarmos avançando ou, pelo menos, mantermos a estabilidade do nível de produtividade atual.
 
 De acordo com a “Lei dos incrementos decrescentes”, obtemos menor produção adicional à medida que acrescentarmos quantidades adicionais de um determinado recurso, mantendo fixos os fatores restantes. Assim, os largos saltos de produtividades obtidos no passado tenderão a se tornar cada vez menores e demandadores de mais investimentos, pesquisas e esforços.
 
Se, por um lado, no longo prazo, a produtividade volumétrica tende a um plateau, por outro, os custos de produção de madeira têm ficado mais caros no País, tornando a manutenção da competitividade do setor florestal brasileiro, em nível internacional, um grande desafio. Na última década, de acordo com o Índice Nacional de Custos da Atividade Florestal (Incaf-Pöyry), a inflação florestal (em R$) foi sistematicamente maior que o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), e essa curva ascendente tem sido apontada como uma tendência (veja quadro na página seguinte).
 
Nesse cenário, diversos são os desafios da silvicultura para equilibrar o fiel dessa balança, aumentando ou mantendo a produtividade e otimizando os custos de forma a garantir competitividade e sustentabilidade do negócio no médio e no longo prazo. Do ponto de vista da produtividade, uma importante ameaça à silvicultura está relacionada a possíveis efeitos que podem ser provocados pelas mudanças climáticas (não necessariamente aquecimento global). 
 
Apesar de ainda incertas, tais mudanças podem interferir em diversas etapas da floresta. Em florestas jovens, poderão afetar a sobrevivência dos plantios, demandando maiores esforços para irrigações de estabelecimento e aumento do consumo de água, além de poder inviabilizar o plantio em determinadas épocas críticas (elevado déficit hídrico). Já para florestas adultas, poderão resultar em redução de produtividade, aumento de ocorrência de pragas e doenças, além do aumento de mortalidade das plantas. 
 
A depender da intensidade das mudanças, poderíamos ter até mesmo a alteração do mapa de aptidão para cultura, forçando a migração dos plantios para regiões menos severas, alterando, então, a geografia das florestas. A modelagem dos possíveis cenários de mudanças bem como o plantio de experimentos, em áreas com condições edafoclimáticas que simulem os cenários elaborados, podem ser uma importante ferramenta de antecipação de impactos, além de permitir a seleção de materiais genéticos e técnicas de manejo adequadas às novas condições.

Outros fatores limitantes e/ou redutores de produtividade merecem a atenção da silvicultura. Como fatores limitantes, temos a disponibilidade hídrica e a nutrição, enquanto os fatores redutores são representados pelas perdas ocasionadas por pragas, doenças, competição com plantas daninhas, ou seja, fatores decorrentes do manejo deficiente.
 
Em termos de manejo nutricional, diversas pesquisas recentes têm contribuído para a evolução e o entendimento sobre o assunto, elucidando vários aspectos que interferem diretamente nas práticas silviculturais. Dentre os avanços mais recentes, podemos citar os estudos relacionados à dinâmica de crescimento radicular do eucalipto, conduzido através do projeto cooperativo Eucflux/Ipef, o qual demonstrou a possibilidade da redução do número de parcelamentos das fertilizações, sem que ocorram aumento nas perdas por lixiviação e percolação profunda.

Esses avanços abrem espaço para novas possibilidades de manejo, incluindo a possibilidade de fertilizações em doses únicas, a depender do avanço das tecnologias relacionadas à liberação controlada dos fertilizantes. Outra importante linha de trabalho está relacionada ao avanço do Manejo de Plantas Daninhas, a partir da evolução da tecnologia de aplicação mecanizada e do uso racional dos herbicidas nos últimos anos. Atualmente, temos 8 herbicidas pós-emergentes e 5 pré-emergentes registrados para cultura do eucalipto, cobrindo amplo espectro de plantas daninhas, tanto de folhas largas quanto gramíneas. 
 
A utilização correta desses produtos permite ao silvicultor minimizar as perdas ocasionadas por competição, além de poder reduzir o número de intervenções na área, reduzindo o consumo global de defensivos. Um desafio ainda enfrentado pelos silvicultores está relacionado ao processo de registro e de liberação de novas moléculas, o qual pode demorar de 3 a 5 anos até que a utilização de um novo produto seja permitida. Agilizar esse processo, com critério, poderia contribuir para o setor através do lançamento de produtos mais eficazes, menos tóxicos e poluentes para as pessoas e o ambiente, além de estimular a competição entre as empresas e reduzir custos.
 
Em termos do manejo integrado de pragas e doenças, ainda existem gaps, principalmente relacionados à detecção rápida e eficaz e também aos métodos de controle disponíveis. No momento, os monitoramentos geralmente são realizados por rondas terrestres, as quais apresentam limitações relacionadas ao deslocamento e visualização das ocorrências, principalmente em florestas adultas, dificultando a detecção precoce e muitas vezes comprometendo o tempo de controle.

Atualmente, esforços têm sido desenvolvidos no sentido de ampliar a utilização de imagens de VANTs e/ou imagens de satélites para detecção precoce das ocorrências. O aumento de oferta de imagens de nanosatélites com boa resolução temporal e espacial tem demonstrado resultados promissores, e pesquisas nesse sentido poderão auxiliar a silvicultura a tomar decisões mais rápidas e assertivas.

Em termos de métodos de controle, o biológico tem sido a principal linha adotada, porém ainda existe ampla necessidade de novas pesquisas e agentes de controle. Em termos de controle químico, seu uso tem sido adotado somente em níveis de severidades graves e em áreas bem específicas, quando as outras alternativas de controle forem esgotadas.
 
Do ponto de vista dos custos, um ponto importante é a necessidade do aumento do índice de mecanização nas empresas. Além do aumento dos custos de produção, as novas fronteiras florestais enfrentam problemas de ordem estrutural. De acordo com dados do último censo realizado pelo IBGE (2010), as regiões Centro-Oeste e Norte apresentam, respectivamente, densidades demográficas de 8,75 e 4,12 habitantes/km², significativamente menores que as regiões Sul e Sudeste, as quais apresentam, respectivamente, 48,58 e 86,92 habitantes/km².

O vazio demográfico impacta diretamente na disponibilidade de mão de obra para atividades manuais, principalmente nas regiões de climas mais quentes. A mecanização e a automação das atividades contribuem para o aumento de todas as etapas silviculturais, realizando um maior trabalho em um menor tempo, quando comparados a métodos manuais, resultando na redução dos custos e no aumento da qualidade das operações. Se associada aos recentes avanços da silvicultura de precisão, poderá auxiliar na obtenção de melhores ganhos, maximizando os resultados, otimizando os recursos e gerindo melhor os processos e pessoas.
 
Nesse cenário, é possível verificar que as práticas silviculturais são dinâmicas e necessitam adaptar-se constantemente aos novos desafios. Investimentos em pesquisa e inovação, aliados à incorporação de tecnologias, são essenciais para a manutenção da competitividade e, principalmente, da sustentabilidade do negócio florestal. No final das contas, essa longa marcha nos trouxe até aqui. E que venham os novos desafios!