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Raiane Machado Gomes e Carlos Cardoso Machado

Professores de Logística e Pesquisa Operacional e Colheita Florestal da UF-Viçosa, respectivamente

Op-CP-51

Reinventando o planejamento logístico florestal
O setor florestal brasileiro segue se destacando no cenário internacional pela sua produtividade, mas continua enfrentando constantes problemas internos. O Relatório Anual 2016 da Indústria Brasileira de Árvores ressaltou o aumento dos custos do setor, sendo ainda maior que a inflação brasileira. Dessa forma, o Brasil precisa se destacar também por meio de ações que minimizam os custos de produção e ainda proporcionem melhoria e aumento da eficiência. 
 
Quando se fala em logística, conceitualmente sabe-se que ela é o planejamento e a gestão do fluxo de materiais, o qual busca atender às expectativas em relação às quantidades, ao tempo e ao lugar. Mais do que atender a essas expectativas, é vital otimizar recursos e garantir o nível de serviço. Mas como? Oferecer o melhor nível de serviço é dispendioso financeiramente, e o cliente precisa reconhecer o valor do serviço que lhe é ofertado. 
 
Mas quem são os clientes? 
Na cadeia de suprimentos de produtos florestais, temos dois grandes grupos de clientes: as fábricas que adquirem a madeira para transformação e aqueles que adquirem os produtos florestais transformados (madeira tratada, celulose, papel, painéis, etc.). Os resultados do primeiro grupo (fábricas) afetam o resultado do segundo, seja no quesito custo e/ou nível de serviço.

O planejamento logístico é feito sob quatro grandes áreas, avaliando as estratégias de estoques, transporte, localização e serviço ao cliente. Ressalta-se que as áreas estratégicas de estoque, transporte e localização são os pilares de sustentação da estratégia de serviço ao cliente. Dessa forma, é preciso planejar os resultados esperados quanto ao nível de serviço, mas as ações que levam para alcançá-los advêm das demais áreas.
 
No setor florestal, fala-se muito em transporte, gestão de frota, de pátio, de entreposto, de estoques (campo, pátio, entreposto, fábrica, armazéns de produtos acabados), e buscam-se melhorias em cada ponto para tornar o negócio cada vez mais competitivo. Frente aos altos custos operacionais e tributários do produto brasileiro, a alta produtividade não é garantia de resultados comerciais no mercado internacional. Sob essa ótica, é preciso identificar oportunidades de melhoria dos resultados por meio da otimização dos recursos. 
 
Uma vez que a logística representa um dos maiores custos florestais, foi dado grande passo no planejamento de ações que buscam a redução desses custos: desenvolveu-se o Plano Diretor Logístico (PDL) Inbound.
 
O PDL Inbound refere-se à análise da malha rodoviária quanto à sua capacidade e ao seu nível de serviço e, também, à identificação de ações e à necessidade de recursos em termos de manutenção e intervenções que melhorem a qualidade da rodovia, o desempenho dos veículos, a segurança no trânsito, os aspectos socioambientais e salvaguardando o patrimônio rodoviário.

Integra o planejamento, o projeto, a construção, a manutenção, a avaliação e a pesquisa em estradas e transporte, fornecendo informações estratégicas para o programa de intervenções e alocação de recursos, predição do desempenho das estradas e dos veículos de transporte, bem como de seus custos. Dessa forma, é otimizado o binômio estrada-transporte florestal através do planejamento de investimentos em manutenção de estradas não pavimentadas, reduzindo o custo das operações logísticas inbound e melhorando o nível e o serviço.
 
Um PDL Inbound criterioso deve iniciar com um diagnóstico para realizar análises em profundidade das operações identificadas como as mais críticas. A intenção é identificar as maiores oportunidades de melhoria de nível de serviço e de reduções dos custos logísticos a serem obtidas através de mudanças em processos, práticas gerenciais, organizacionais ou tecnológicas, que permitam obter ganhos de desempenho dentro de uma relação benefício-custo favorável. 
 
Então, é de suma importância diagnosticar a situação da malha rodoviária, seja ela pavimentada ou não pavimentada, uma vez que ela influi nos custos e nas velocidades operacionais do tráfego. É preciso mapear a condição estrutural do pavimento, as características resilientes dos materiais do pavimento, a capacidade de suporte, a estratigrafia e a condição funcional. Para desenvolver esse novo formato de planejamento, o PDL Inbound, e realizar esse mapeamento, foram empregados equipamentos de alta tecnologia e softwares robustos de simulação e de otimização. 
 
Ainda foi diagnosticado o transporte rodoviário de madeira pelo inventário do volume e do tipo de tráfego, das características técnicas e do desempenho e dos custos dos veículos. Com uma base de dados sólida como a proposta, se torna possível uma análise econômico-financeira para não só estudar os custos operacionais, mas também os investimentos e custo do ciclo de vida de uma estrada. Na prática, as empresas focam muito na gestão operacional do transporte por meio da frota e não dedicam o mesmo esforço às estradas, assim negligenciam um lado do binômio estrada-transporte florestal. 
 
As simulações desenvolvidas para o PDL Inbound avaliam a evolução da condição da rede a partir de diferentes estratégias consideradas. Através da avaliação de estratégias, determinam-se as intervenções que são necessárias e os custos para períodos que podem variar de alguns anos até a vida útil da rodovia. 
 
No PDL Inbound, é feita avaliação econômica de políticas de construção e manutenção de estradas, mediante simulação do comportamento dos veículos e do desempenho dos pavimentos. Para essa avaliação, podemos estabelecer níveis orçamentários que minimizem o custo total da modalidade rodoviária, programas de manutenção e de construção que maximizem o valor presente líquido de uma rede rodoviária sob uma política de restrição orçamentária, programas de investimento a médio e longo prazo e programas de intervenção de curto prazo, baseados num sistema de gerência de pavimentos.
 
Não basta o conhecimento genérico das estradas para tomar decisões de investimentos em infraestrutura e frota. Decidir por qual composição veicular de carga (CVC) utilizar é uma questão muito maior do que a capacidade de carga e potência de motor. Ou investir em drenagens e cascalhamento de trechos de estrada não pavimentada em função de atoleiros não garante fluidez do trânsito no trecho problemático. 
 
O rigor do estudo das estradas permite conhecer, precisamente, o projeto geográfico de cada trecho, assim como a resistência mecânica do solo. Dessa forma, por meio de simulações, pode-se avaliar o desempenho do transporte em função de diferentes cenários de investimentos em estrada e frota, sem a necessidade de investimento real, que só é feito após avaliação dos resultados e deliberações da empresa. Agora, com o novo conceito - PDL Inbound, é possível saber o real impacto dos investimentos nos resultados econômico-financeiros, operacionais e ambientais da logística inbound florestal.