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Teotônio Francisco de Assis

Diretor da Assistech

Op-CP-50

Melhoramento genético e produtividade
Segundo a conceituação moderna, os níveis de produção florestal são controlados por três tipos de produtividade: A produtividade potencial, a produtividade realizável e a produtividade real. A produtividade potencial é definida pelos fatores determinantes, típicos de determinado local, tais como temperatura, radiação solar e precipitação pluviométrica.

Esses fatores, juntos com a concentração de CO2, vão determinar a capacidade teórica de produção de matéria seca pela fotossíntese. Normalmente a ação sobre esses fatores somente se dá no momento da aquisição da área a ser plantada, quando se pode escolher onde esses fatores são mais favoráveis à obtenção de maiores produtividades. 
 
A produtividade realizável é controlada pelos fatores técnicos, tais como material genético, manejo, irrigação, fertilização, preparo de solo, controle de vegetação competidora, combate a pragas etc. Os fatores técnicos são manejáveis e atuam para que a produtividade realizável possa ser o mais próximo da produtividade potencial. O melhoramento genético é um dos principais agentes do aumento da produtividade realizável. O desenvolvimento de materiais genéticos superiores em crescimento e qualidade da madeira, tolerantes a fatores bióticos e abióticos é um dos responsáveis pela colocação do Brasil no topo das produtividades mundiais.
 
Por fim, a produtividade real é determinada pelos fatores de redução, como fogo, granizo, geadas, déficit hídrico, pragas, doenças etc. Ela será tão mais próxima da produtividade realizável quanto maior for a ação sobre eles. É importante notar que, com exceção do fogo e do granizo, o melhoramento genético, além da sua ação sobre o desenvolvimento de materiais genéticos mais produtivos e de melhor qualidade da madeira, também tem ação direta e mitigadora sobre os fatores de redução da produtividade e tem contribuição decisiva nesse sentido. Portanto, o melhoramento genético é um fator de grande importância, não somente no aumento da produtividade atingível, mas também na obtenção de uma maior produtividade real. 
 
Apesar da sua importância na promoção do aumento da produtividade, o melhoramento genético não é o único agente responsável por ela. A floresta, ou seja, o que vemos, medimos e colhemos é o resultado da constituição genética dos indivíduos que a compõem (espécies, procedências, famílias ou clones), mais os fatores ambientais e de manejo aos quais a floresta é submetida e mais a interação entre esses fatores. O melhoramento atua no desenvolvimento de indivíduos com constituição genética de maior potencial de produtividade. 
 
As áreas de manejo e de proteção florestal trabalham no sentido de assegurar o ambiente mais adequado para que a superioridade genética dos indivíduos da floresta se manifeste em toda sua plenitude. A interação entre os genótipos e os ambientes é manejada pelo melhoramento genético, tirando proveito de genótipos mais estáveis, que apresentam comportamento geral favorável para um grupo amplo de ambientes (solo, clima, relevo e manejo), bem como de genótipos mais adaptados a ambientes específicos. Portanto, para se construir uma produtividade sólida, é necessário que todas as áreas envolvidas na sua obtenção busquem a maximização dos seus efeitos quantitativos e qualitativos na floresta.
 
Quando se fala em produtividade florestal, é comum vir à mente o crescimento volumétrico das árvores. Entretanto, a produtividade tem um sentido mais amplo e é mais bem quantificada quando expressa em produto final por unidade de área plantada. Para a maioria das finalidades a que se destina a madeira, o mais importante é a quantidade de celulose (ton/ha/ano), carvão (ton/ha/ano), energia (Kcal/ha/ano), tábuas (quantidade/ha/ano) etc., produzidos em determinada área.

Nesse sentido, a qualidade da madeira é um fator de grande importância, pois se relaciona positivamente com a maioria dos produtos obtidos da madeira e podem influenciar diretamente na obtenção de maiores produtividades. Entre os atributos de qualidade da madeira a densidade é um dos mais impactantes na produtividade. Na indústria de celulose, por exemplo, a produtividade em polpa mais do que dobrou nos últimos 30 anos, fruto do maior crescimento das florestas e das melhorias na qualidade da madeira.
 
Situação semelhante aconteceu com a produção de carvão siderúrgico, mostrando o profícuo esforço dos técnicos brasileiros em promover, de forma tão expressiva, o aumento da produtividade florestal. É inegável o significativo aporte que o melhoramento genético tem dado para o atingimento dos níveis de produtividade obtidos no Brasil. Sua contribuição mais relevante se deu pelo uso da hibridação, como estratégia geral de melhoramento, associada à utilização do conceito de florestas clonais.

A hibridação é a forma mais eficiente de se promoverem ganhos de produtividade e de qualidade e a clonagem é a forma mais rápida de transformar esses ganhos do melhoramento em benefícios para as indústrias. Quando utilizadas em conjunto, a hibridação e a clonagem são poderosas ferramentas para o aumento da produtividade. Em geral, famílias híbridas são heterogêneas, sendo necessário ter processos de clonagem bem estabelecidos para tirar proveito da variabilidade existente nessas famílias e transformar indivíduos, de alto desempenho e qualidade da madeira, em florestas clonais superiores.
 
O impacto da maior produtividade florestal, no seu sentido mais amplo, é a redução dos custos da matéria prima e, nesse sentido, a qualidade da madeira também tem importante influência. Se a produtividade de certo produto da madeira é alta, isso impacta toda a cadeia de custos, que vai desde a formação da floresta, passando pela colheita, descascamento, baldeio, carregamento e transporte. Adicionalmente, na área industrial, normalmente a madeira de melhor qualidade produz reflexos positivos nos processos, aumentando a produtividade dos equipamentos, sejam picadores, digestores, fornos de carbonização, altos fornos, unidades de geração de energia e tudo isso reduz custos. 
 
O melhoramento genético é a área que pode promover as melhorias mais significativas na qualidade da madeira. A qualidade da madeira afeta também a qualidade dos produtos, com impactos positivos nos negócios das empresas. Com isso, dois dos mais importantes fatores do processo competitivo, qualidade e custo, serão atendidos.
 
A manutenção de níveis crescentes de produtividade é sempre um árduo desafio. É uma luta permanente, principalmente porque alguns dos fatores de redução da produtividade são dinâmicos e, permanentemente, estão a desafiar as áreas do melhoramento genético, manejo, entomologia e fitopatologia. 
 
Há desafios crescentes, como a migração de projetos florestais para áreas com menor produtividade potencial, ocorrência de situações de mudanças climáticas e episódios de introdução e/ou adaptação de novas pragas e doenças. Essa é uma situação recorrente nos últimos anos, na qual os fatores de redução da produtividade nunca estiveram tão presentes, estagnando e até mesmo reduzindo a produtividade em alguns ambientes.

Há novas pragas e doenças, além de mudanças no clima, que têm sido fortes empecilhos ao aumento e até mesmo à manutenção da produtividade. Nesse cenário, manter o crescimento da produtividade será sempre desafiador e, em razão disso, o crescimento da produtividade florestal no Brasil não está nos seus melhores momentos. Entretanto, ao mesmo tempo em que esses fatores ocorrem, a ciência também evolui e cria novas plataformas de conhecimento e desenvolvimento, que atuam no sentido de assegurar crescentes patamares de produtividade. 
 
O melhoramento genético tem como suporte para um sustentável aumento da produtividade a variabilidade genética dos bancos de germoplasma, dos quais se lança mão nos momentos em que os fatores de redução comprometem ou ameaçam os ganhos de produtividade. Neste sentido, do ponto de vista institucional, o Brasil não tem feito seu “dever de casa”.

Se, para várias culturas importantes na economia brasileira, há bancos de germoplasma, que servem de socorro aos melhoristas nos momentos em que os fatores de redução ameaçam a produtividade, na área florestal os esforços maiores têm sido feitos pelas empresas, de forma isolada ou em associação com instituições de pesquisa. As introduções de materiais genéticos realizadas pela Embrapa na década de 1980 não tiveram continuidade e não há uma política nacional de conservação de recursos genéticos florestais. 
 
Para um setor como o florestal, que gera a quantidade de riquezas e divisas para o País, deveria haver bancos de conservação genética oficiais dos principais gêneros florestais utilizados no Brasil. Essa situação agrava-se diante das dificuldades, cada vez maiores, de acesso aos materiais genéticos nos Centros de Origem, além do seu empobrecimento genético provocado pela expansão da atividade humana. Assim, parece pouco estratégico para o setor florestal, no que concerne ao melhoramento, não ter uma reserva genética adequada para dar suporte ao aumento da produtividade no longo prazo.