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Manoel de Freitas

Consultor da Manoel de Freitas Consultoria Florestal

Op-CP-52

Mercado florestal nacional
Consta que a tia Inês não foi ao baile por 10 razões diferentes; a primeira delas é que tinha morrido. Portanto, todas as demais não tinham mais importância. Parodiando o caso da tia Inês, sabemos que há, pelo menos, 10 boas razões para investir em florestas plantadas, devendo começar pelo estudo de mercado. Se, contudo, não houver um mínimo de garantia da existência de um mercado que dê o retorno desejado para os produtos que serão ofertados, todas as demais razões não têm mais importância, e paramos por aí. 
 
Parece óbvio e simplista, mas, no mundo real, descuidos no exame do mercado florestal vêm sendo cometidos anos a fio e por um grande número de investidores independentes e novatos no setor. Como resultante, a madeira em pé, hoje em dia, salvo poucas exceções, de uma forma geral, está a preços tão aviltados que não cobrem nem os custos de reflorestamento, quanto mais os custos de capital e dos juros sobre a terra. Em muitos casos, preços de 10 a 15 anos atrás. E, como sempre afirmo: “o melhor adubo que existe ainda é o preço”! 
 
Sem contar aquelas plantações para as quais não existe nenhuma, eu repito, nenhuma oferta para a madeira. Este, então, o pior dos mundos. Isso posto, como introdução, passemos agora a examinar o que se denomina Mercado Florestal Nacional e suas características. 
 
Mercado - Oferta:
Uma das formas de entender o mercado é conhecendo o que existe de plantações florestais. Entre as possíveis fontes de informação, uma das mais precisas e atualizadas são os números publicados pela Ibá - Industria Brasileira de Árvores. Pelo Relatório 2017, tínhamos, em 2016, cerca de 5,67 milhões de hectares de eucaliptos (72%), 1,58 milhão de hectares de pínus (20%) e 589 mil ha de outros gêneros florestais (8%).

Os plantios de eucaliptos vêm crescendo de forma constante ano a ano, tendo aumentado, por exemplo, 2,2 milhões de ha entre 2005 e 2016. Os plantios de pínus, no mesmo período, se reduziram em 247 mil ha. Contudo, no caso do pínus, se percebe que a área atual é praticamente a mesma desde 2012, indicando que parou de cair e tende a se estabilizar ou crescer vagarosamente. 
Fica claro, pelos números acima, que o mercado de plantações florestais no Brasil está centrado majoritariamente na madeira de eucalipto, secundado pelo pínus, espécies consagradas no mundo todo como de rápido crescimento e largamente plantadas para os mais variados usos.
 
No tocante ao grupo outros gêneros florestais, as seringueiras, acácias, teca e paricá respondem por 96% do total existente, sendo que as duas primeiras são plantadas visando a um produto não madeireiro (látex e tanino, respectivamente) e, portanto, a madeira sendo um produto secundário. Teca e paricá são voltadas principalmente para produtos de madeira sólida e compensado, respectivamente.
 
Muito se tem falado em outras espécies, como mogno africano, cedro australiano, que, no meu entender, vão ocupar, no segmento de madeira sólida, nichos de mercado muito diferenciados. Focaremos, neste artigo, apenas eucalipto e pínus, na medida em que representam 92% do que existe plantado no País e capazes de crescer em todos as regiões do Brasil, ao contrário de outros gêneros florestais, que necessitam de sítios com condições climáticas e fertilidades específicas.
 
Dessa maneira, para eucaliptos e pínus, tendo em vista calcular a oferta da madeira em nível nacional, após multiplicarmos as áreas plantadas pelo Incremento Médio Anual-IMA mencionadas no Ibá-2017, acabamos chegando às seguintes produções sustentadas por ano, conforme mostra o quadro em destaque.

 
Mercado - Consumo:
Pelas informações do mesmo relatório, o setor de celulose e papel detém 34% das florestas plantadas, proprietários independentes 29%, siderurgia a carvão vegetal 14%, investidores financeiros 10%, painéis e laminados 6%, produtos sólidos de madeira 4% e outros segmentos de base florestal 3%. 
 
Os proprietários independentes 29%, e investidores financeiros 10%, formando 39% da área existente, fornecem grande parte da madeira produzida para celulose, carvão vegetal e painéis, em contratos de parceria de longo prazo, bem como vendem também madeira como biomassa para energia. 
 
Ainda de acordo com o Ibá-2017, o consumo industrial de madeira de florestas plantadas em 2016 chegou a 206,25 milhões de m3 da forma a seguir. Celulose, o maior consumidor, com 80,07 milhões de m3, representando 39% desse total. Em segundo, o consumo na forma de lenha industrial, com um volume de 54,98 milhões de m3,  representando 27%. Nesse tópico, cabe ressaltar que somente o uso de madeira para secagem de grãos da safra agrícola consome algo como 20 milhões de m3. A propósito, consta que o Brasil ainda possuía, em 2012, um total de 7 milhões de lares consumindo lenha (provavelmente, a maior parte nativa) e demandando 30 milhões de m3 ao ano. 
 
Em terceiro lugar, o consumo do setor da indústria madeireira (serrados, compensados), com 33,25 milhões de m3, representando 16%. Em quarto lugar, a produção de carvão vegetal, com 21,46 milhões de m3 e representando 10%. e, em quinto lugar, painéis reconstituídos, demandando 12,99 milhões de m3 e representando 6%. 
 
A esta altura, já estamos com 98% do consumo especificado nos 5 segmentos acima descritos. Não entrou nesse total a demanda para madeira tratada (uns 2 milhões de m3/ano) e para outros usos, por ser pouco significativa em termos volumétricos,com-
parada com os demais setores.
 
Mercado - Balanço da Oferta x Consumo: 
Em continuidade, ao comparar agora a oferta de eucaliptos e pínus anteriormente mencionada, de 250,8 milhões de m3 com os 206,25 milhões de m3 consumidos, e também acima apresentados, vamos verificar que, em tese, havia, pelos dados de 2016, um excesso de 44,55 milhões m3 de madeira ou algo equivalente a 1,28 milhão de hectares - 17,7% do total.  Estaria correto? Não é exagero, fruto apenas de cálculos teóricos? Difícil de comprovar. 
 
Alguns consultorias já falavam em 1 milhão de hectares sem destinação lá por 2016. Mato Grosso do Sul teria uns 250.000 ha de eucalipto sem mercado, e, apesar de não ter sido quantificado, se comentava também madeira sobrando em algumas regiões de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Tocantins, Paraná, entre os mais veiculados. 
 
Pela minha experiência como consultor florestal, acredito que a sobra não chegaria a tanto e que o dado é passível de estar equivocado a partir das produtividades estimadas, pois certamente podem não ter sido levado em conta povoamentos de eucaliptos que passaram para a 2ª ou 3ª rotação onde o IMA é mais baixo, povoamentos afetados por incêndios e pelas diversas pragas e doenças que vêm ocorrendo nos últimos anos, plantios sem nenhum valor comercial (pela área e localização) etc. 
 
Deve ser considerado, na análise desse balanço, que nos arrastamos por quase 3 anos em uma brutal recessão e que os dados de 2016 refletem claramente um ano em que os consumos estavam, pelo segundo ano, em queda (PIB 2015 de -3,8% e PIB 2016 de - 3,6%). 
 
Os setores mais atingidos, pelo que se sabe, foram os segmentos de carvão vegetal, indústria madeireira e de painéis. Esses 3 segmentos, em 2016, consumiram 68,03 milhões de m3 ou 33% do total. Exato 1/3 do consumo do País. Certamente, com a economia deixando a recessão em 2017 e voltando a crescer, é de se esperar que venhamos a ter um aumento significativo no consumo nesses 3 setores. 
 
Também o setor de celulose e papel continuou em franca evolução, tanto é que a produção de celulose, em 2017, já foi maior em 700.000 t (o que deve ter significado uns 2,8 milhões a mais de m3 no consumo de madeira) e deve continuar crescendo ao longo dos anos. Por outro lado, temos observado muitos reflorestadores independentes abandonando seus plantios ou removendo suas plantações para usos agrícolas ou pecuários devido à fase desanimadora de preços e à falta de mercado para a madeira. Apesar de não haver dados que quantificam essa redução de área, temos o sentimento de que não deve ser algo muito significativo. 
 
Tudo somado e subtraído, tenho a opinião de que podemos esperar uma melhoria mais consistente do mercado a partir de 2018, trazendo, como já aconteceram inúmeras vezes no mercado florestal no passado, uma nova onda de crescimento no médio prazo e atraindo novos negócios. De qualquer forma, estão aqui postos os dados para estimular uma reflexão por parte do investidor em plantações florestais.